A revelação feriu mais profundamente do que a traição de Marcos com a sua meia-irmã. Não conseguia digerir o fato de que aquele homem se aproveitou de sua inocência quando era mais jovem. A governanta entrou no cômodo, pigarreando discretamente, enquanto trazia a criança no colo. — Mamãe! — A voz infantil chamou. — Oi, meu anjo… — Tá chorando? — Não, é só um cisco que caiu nos meus olhos. Luísa levou a mão ao rosto e enxugou as lágrimas com a palma. Lançou um olhar carregado de desprezo na direção de Paolo, depois pegou o filho nos braços e saiu do ambiente. Ele não a seguiu. Julgou mais prudente permitir que o clima amainasse antes de retornar ao assunto que os havia dilacerado.❛ ━━━━・❪ ❁ ❫ ・━━━❜Uma hora depois, Luísa estava brincando com o filho no quarto. Estavam sentados sobre o carpete macio quando o toque insistente do celular interrompeu a leveza do momento. Ela se levantou, deixando o menino entretido com seu carrinho, e caminhou até a cômoda ao lado da cama. — Oi, Ca
Ela parou. Olhou para a mão dele em seu braço, depois para o rosto.— Fala.Paolo soltou seu pulso com cuidado. Passou a mão pelos cabelos, respirando fundo.— Não sou bom com palavras...— Já percebi. — Ela esboçou meio sorriso.Paolo inclinou-se ligeiramente, reduzindo a distância entre os dois. Seus olhos a examinavam com intensidade contida, como quem tenta decifrar algo precioso, mas trincado.— Sei que você ficou com a casa…— Como soube?— Tenho olhos e ouvidos em toda parte.Luísa desviou o olhar, mas não recuou. — Não quero que volte para Japigia. Lá é muito perigoso.Suas mãos estavam frias, e ela as esfregava discretamente.— Eu sei me defender.— Não sabe de porra nenhuma — ele rebateu. — O seu ex e sua irmã podem continuar te atacando.Ela o encarou, e por alguns segundos, não houve som além do leve canto dos pássaros ao longe.Paolo ergueu a mão e afastou uma mecha de cabelo que escapava do coque improvisado dela. Seus dedos roçaram sua pele de leve.— Me deixa continua
— Não se esqueça de que você tem uma dívida comigo — ressaltou Paolo. — Além disso, você assinou um contrato.— Vou pedir ao Carlo para avaliar esse documento.— Não! — bradou ele, aproximando-se com passos decididos. Suas mãos agarraram os punhos dela com força e a puxaram contra seu corpo. — Você já passou tempo demais com esse seu antigo amiguinho do colegial.Luísa ergueu as mãos e pressionou o peito de Paolo, numa tentativa de empurrá-lo, mas seu esforço revelou-se inútil. Ele permanecia imóvel, como uma parede, os músculos tensos e os olhos escuros estavam fixados nos de Luísa.— Como sabe disso? — questionou-o.Soltando-a de repente, ele girou nos calcanhares e passou a mão pelos cabelos.— Está investigando a minha vida, senhor Morano? — interpelou ela, aproximando-se pelas costas. Sua mão tocou com delicadeza as omoplatas dele, tentando trazê-lo de volta à conversa.Ele preferia quando o nome dela escapava entre gemidos e sussurros quando estava dentro de seu corpo do que ouv
Dentro do automóvel, Luísa respirou profundamente, aliviada por Paolo, que a autorizou a sair um pouco de casa. Insistiu para ir ao veículo do advogado, mas os seguranças recusaram. Alegaram que a ordem do chefe era clara: acompanhá-la onde quer que fossem.A cafeteria Petriella tinha um aroma intenso de grãos recém-moídos. O som do chiado da máquina de espresso se misturava a conversas abafadas e ao tilintar de xícaras. Luísa observou a vitrine com bastante opções de doces e salgados para escolher, mas o que lhe chamou a atenção foram os bolos em formato de joaninha.— Vamos sentar ali! — Carlo escolheu uma mesa próxima à janela.Embora fosse educado, Carlo demonstrava evidente desconforto. Seus olhos furtivos denunciavam o incômodo provocado pelos olhares atentos dos homens de Don Morano que vigiavam Luísa de longe.— Você sabe quem é aquele homem que você beijou? — O advogado inquiriu em voz baixa.Ela piscou algumas vezes, surpresa com a pergunta direta. Era óbvio que sabia, mas n
Naquele ano, o homem com traços marcantes completava 22 anos. Paolo Morano possuía uma postura intimidadora quando se empertigou em seus 1,90 de altura. O italiano passou os dedos pelas veias que saltavam em suas têmporas e, em seguida, enterrou nos cabelos, jogando os fios lisos para trás enquanto o tio dirigia e reclamava em seu ouvido. — Temos que expandir os negócios da nossa família. Você precisa encontrar uma ragazza e… — Já disse que não vou casar! — Interrompeu o tio quando recusou com veemência. Vencido pela teimosia do sobrinho, ele desistiu de aconselhar. — O seu pai não está na cidade, então, temos que ir até Bari. Stefano cuidava dos homens e gerenciava os locais em que dominava. Já Francesco, pai de Paolo, sempre administrou a parte burocrática da organização. Estava sempre em reuniões importantes ou participando de jantares para manter a aliança com pessoas poderosas. Embora o clã fosse mais poderoso e sanguinário da região de Bari, os dois sempre divergiam, não ha
Luísa caminhava cabisbaixa, observando o piso de madeira que refletia as luzes amareladas do lustre. O quarto era decorado com uma sofisticação que exalava um ar de exclusividade. No centro, havia um balde de gelo com champanhe sobre uma mesa de canto que chamava sua atenção. Ela se deteve por um instante, mas o som da porta fechada com firmeza a fez estremecer. — Quer beber para relaxar? — A voz rouca de Paolo ressoou pelo ambiente. De costas para ele, Luísa meneou a cabeça negativamente. Ela uniu as mãos na frente do vestido azul de comprimento modesto, coberto por um casaco branco desgastado que parecia destoar do brilho e da elegância ao seu redor. Os passos de Paolo eram abafados pelo tapete espesso no instante em que ele se aproximava de suas costas. Os dedos longos afastaram suas mechas pretas e sedosas e, então, os lábios dele tocaram em seu pescoço. Luisa permaneceu imóvel, mas ele a puxou para mais perto, suspirando contra a sua nuca até ouvir um choramingo escapar de seus
Cinco anos depois…Certa manhã, uma rajada repentina de vento derrubou algumas folhas e arrastou-as pela calçada na frente de uma modesta casa localizada num dos bairros mais perigosos devido à presença de criminalidade na Zona Oeste de Bari.Luísa cerrou os olhos, sentindo a brisa entrando pela janela, enquanto via as cores das notas musicais de uma canção que costumava tocar. Ela tinha algo chamado sinestesia — uma condição que fundia os seus sentidos e se misturavam automaticamente. — Ela continuava absorta na canção que ressoava em sua mente quando o celular vibrou em sua mão. Após abrir as pálpebras, ela olhou para a tela brilhante em vão.Ela havia se empenhado tanto para preparar o jantar para comemorar o aniversário do marido na noite anterior, e até havia deixado o filho com a sogra; no entanto, ele não voltou para casa. Luísa chegou a mandar diversas mensagens para o marido, mas ele sequer respondeu às mensagens ou atendeu às suas chamadas.Afastando-se da janela, suspirou pe
— Os rapazes querem se divertir um pouco, gata! — O grandalhão tocou suas costas.De repente, um Porsche se aproximou e diminuiu a velocidade.— Deixem ela em paz. — A ordem veio do homem que estava no carro de luxo.Gradualmente, os homens recuaram após acatar a ordem do chefe.— Pianista, entre no carro. — O desconhecido falou.Como todos naquele bairro sabiam que ela tocava piano? Ela se perguntava enquanto alargava os passos para fugir do carro que a acompanhava.— Se eu for embora, não vou voltar para impedir que aqueles caras ataquem você… — Paolo a advertiu. — Venha logo, Luísa! — A pouca paciência que tinha exauriu.— Como sabe o meu nome, senhor? — Estagnou na calçada e fitou o homem com a mandíbula quadrada.— Todos aqui já te viram tocando piano.Os lábios de Paolo se mexeram, mas ele não se pronunciou. Tinha poucas semanas que voltou ao país e tudo o que sabia era que a pianista se casou e teve um filho.— Pare de se fazer de rogada e entre na porra do carro. — Tirou os ó