“Entre o que eu sinto e o que eu mostro, há sempre uma porta automática.” — (Anotação de R.)
Cheguei ontem à noite em Split. Dormi mal, acordei pior. O que mais me incomodava era o silêncio de Matheo. Ele sabia que eu tinha chegado — Dayse avisou, os contratos empresariais pedem atualizações, as notícias circulam rápido. Ele sabia. E ainda assim, nada. Nem um "bem-vinda". Nem uma mensagem qualquer.
“Quer o quê, Matheo? Que eu peça para você me esperar enquanto arrumo um passado que não cabe numa mala? Que eu confesse em voz alta aquilo que nem o meu corpo sabe dizer sem tremer?”
Engoli a pergunta junto com o café preto que me trouxe de volta ao eixo. Procedimento, não sentimento. Fui direto para a Lancaster, sem parar para me arrumar direito ou trocar de roupa.
A sede da empresa fica a duas ruas do porto: um prédio discreto de vidro e aço, com plantas que tentam imitar uma floresta. O 9º andar me devolveu à ordem — cheiro de limpeza profissional, zero jasmim no ar.
— Bem-vinda de volt