“Quando a memória é dopada, o passado vira arquipélago: pedaços de terra cercados por mar que alguém despejou.” — Anotação de R.
(...)
A noite caiu sobre a cidade, trazendo consigo a trilha sonora vibrante da vida — buzinas, vozes, o pulsar incessante que, em outros dias, me fazia sentir parte de algo maior. Me ancorava.
Mas naquela noite, ao deitar, senti meu corpo preso no presente enquanto minha mente já navegava sem permissão em outra direção, ousava revisitar o passado. Não como invasão, mas como reconhecimento — aquele momento em que você percebe que a casa em chamas no horizonte é a sua.
O relógio marcou 00:00.
Os números brilhantes do despertador projetaram-se no teto. Não como ameaça, mas como estrelas que me convidavam a enxergar além da escuridão. Contagem regressiva para algo que eu não sabia nomear mas que meu corpo já conhecia.
E então o sonho veio.
Sem bater. Sem avisar.
Como sempre.
Mas, dessa vez, eu não lutei. Eu o acolhi. Deixei que ele me carregasse, porque talvez