“O cérebro apaga; a pele arquiva.” — (Anotação de R.)
Acordei, mas não descansada. Acordei gasta. O sono não foi abrigo — foi campo minado.
Desde que voltei ao Brasil, a paz me evita. Os pesadelos voltaram com dentes afiados, mastigando o que resta de calma.
Os dez anos na Croácia foram um oásis: Dayse e os meninos, que eu amo como se fossem meus, e Matheo — meu porto e, às vezes, o único chão que não cede quando piso.
Bastou cruzar o oceano e a casa que eu tinha por dentro começou a ranger. Cada tábua do assoalho da minha mente geme com um som que não reconheço, mas que meu corpo parece conhecer intimamente.
Por que eu não lembro?
Infância, adolescência, a vida antes de Dayse — um corredor sem lâmpadas. Eu forço minha mente, mas ela não me diz nada. Apenas frieza e silêncio.
Como se alguém tivesse apagado propositalmente cada traço de memória do meu passado, nada que provasse a minha existência de dez anos pra trás.
Fiquei na cama mais tempo que o necessário, olhando para o teto.
Há