“A coragem de abrir uma porta é o preço para descobrir o que foi escondido no escuro.” — (Clarice Lispector)
(...)
Sorri sem mostrar os dentes.
— Sessenta segundos — corrigi. — E você fala antes.
Vi o exato momento em que algo mudou em sua expressão ― uma satisfação silenciosa que ele não escondeu.
A distância entre nossos corpos diminuiu. Ele avançou com movimento felino até que eu pudesse sentir o calor de sua respiração, e quando falou, sua voz carregava calor que parecia ter substância própria:
— Aurélia.
A palavra cortou o subsolo como uma chave que finalmente gira.
O nome não era uma pessoa, era um lugar. A memória fez o trabalho de sobrepor: um carimbo com flor antiga, uma fita azul em volta de uma pasta, um corredor de piso encerado. Aurélia.
No ar, a sensação de que as paredes sabiam de cor o resto.
Eu não fechei os olhos. Deixei que o nome se depositasse inteiro no corpo.
O lapso de vertigem foi real, curto. Atenção, não medo.
A mão dele finalmente tocou a minha — o pulso,