“Amor não é esconderijo. Às vezes, é a coragem de pedir distância para não ferir.” — (Diário de R.)
Dayse me recebeu em casa sem maquiagem, de moletom — aquele que ela só usa quando o mundo parece pesado demais. Ela fechou a porta do escritório e apagou as luzes do teto, deixando a gente no brilho suave de um abajur. Era nosso ritual de verdade, aquele momento mais íntimo entre nós.
— Fala — ela pediu, segurando um copo d’água na mão, o olhar fixo em mim como uma rede que me prende.
Eu contei tudo: o encontro num lugar isolado, o pedido para “ficar” deixado no ar, como uma faca pendurada.
Falei também do mapa que ele prometeu, das duas portas — “partos clandestinos” e “transferências noturnas” — e daquele gosto metálico que a palavra “preço” deixa no fundo da língua.
Dayse escutou tudo sem interromper. Quando acabei, ela soltou a frase que mais me protege na vida:
— Seu corpo não entra em negociação. Se alguém achou que entra, errou de século. E de mulher.
— Eu sei — respondi. — Mas,