“A memória é um labirinto onde ecoam os passos perdidos.” — (Isabel Allende)
3h12. A casa estava ali na nossa frente feito um segredo mal contado: simples demais para não esconder alguma coisa.
O muro tinha hera velha grudada, o portão de ferro estava sem graça, só uma janela com luz de abajur acesa. Cheirava a alfazema de verdade no ar, mas meio desbotada, como perfume que alguém esqueceu de trocar há muito tempo.
Entramos pelo lado, cada passo pensado.
Rafael mexeu no cadeado que nem cirurgião ― aprendeu que metal também guarda segredo.
No corredor estreito, as pedras do chão contaram nossa caminhada: quatorze passos até a curva, depois mais seis. Contei cada um, meu corpo lembrando de outros corredores, outras vezes que precisei contar para não me perder. Mas fiquei firme. Sempre fico.
A porta estava só encostada, nem fechada nem aberta. Tipo convite ou armadilha ― talvez as duas coisas. Botei a mão na madeira e senti a memória tentando me morder, com dente afiado de coisa que não