“É impossível não se sentir comovido pelo próprio passado.” — (Gabriel García Márquez)
Matheo apareceu na porta, ainda com aquela pressa que ele carrega quando está preocupado comigo.
— Posso ir com você hoje?
Não era bem uma pergunta. Era ele dizendo que não ia me deixar sozinha, do jeito dele de dizer as coisas.
— Pode. Mas primeiro preciso ouvir um arquivo. E talvez você não queira escutar junto.
— Então fico aqui fora esperando.
Beijei o canto da boca dele ― daquele jeito que a gente beija quando as palavras não são suficientes. Entrei na sala e fechei a porta.
O pendrive entrou no computador como uma chave entrando numa fechadura que eu não tinha certeza se queria abrir. O segundo arquivo estava lá, esperando. Cliquei e ele se abriu como uma ferida que nunca tinha cicatrizado direito.
Passos. Logo de cara, passos que não tinham pressa, mas tinham propósito. Fechei os olhos e meu corpo começou a contar sozinho: quatorze até a curva, mais seis depois. Minha pele arrepiou toda. Eu já