Claire Dubois, uma talentosa estudante de arte em Paris, busca refúgio na tranquilidade de uma galeria de arte para escapar das sombras do passado. Em uma noite fria, seu mundo solitário colide com o irresistível Jean-Luc Moreau, um mafioso enigmático que exala perigo e poder. Apesar de sua aura intimidadora, Claire é atraída pela presença magnética de Jean-Luc, desencadeando uma paixão perigosa que desafia tudo o que ela conhece sobre si mesma. O que começa como um encontro fortuito rapidamente se transforma em um jogo perigoso de sedução e segredos, à medida que Claire descobre o verdadeiro mundo obscuro de Jean-Luc. Quando Claire descobre estar grávida, ela foge para proteger seu filho dos perigos sombrios que Jean-Luc representa, mantendo em segredo a verdade sobre sua gravidez. Seis anos depois, o destino os reúne novamente, lançando Claire em um turbilhão de emoções conflitantes. Jean-Luc, obcecado por manter Claire e seu filho em sua vida, enfrenta dilemas morais e perigos que ameaçam separá-los para sempre. Entre a paixão proibida e a luta pela sobrevivência, Claire e Jean-Luc são obrigados a confrontar seus próprios demônios internos e decidir até onde estão dispostos a ir pelo amor e pela segurança de suas famílias.
Ler maisClaire
Paris, 2018.
A noite caía suavemente sobre a Cidade das Luzes, derramando sombras longas pelas ruas estreitas e antigas. Eu sentia o frio úmido penetrando minha pele, mas meu coração ardia com uma inquietude que nenhuma estação poderia acalmar. Caminhava apressada pelo Boulevard Saint-Germain, com meus pensamentos dispersos como as folhas de outono aos meus pés.
A galeria onde eu costumava buscar inspiração estava a poucos metros de distância, e eu ansiava pelo refúgio silencioso que as pinturas ofereciam. Eu precisava escapar das memórias que me assombravam, das incertezas que pendiam sobre meu futuro como uma espada invisível. As ruas de Paris, embora familiares, pareciam mais solitárias naquela noite.
Entrei na galeria, e o cheiro familiar de tinta e madeira velha me acolheu imediatamente. Passei pelas obras conhecidas, cada pincelada contando uma história, mas naquela noite, uma sensação de antecipação rastejava pela minha mente. Meus olhos começaram a percorrer ao redor. Eu não sabia exatamente o que estava procurando, mas sentia que algo – ou alguém – estava prestes a cruzar meu caminho.
O som suave dos meus passos ecoava pelas paredes da galeria vazia. As luzes difusas criavam sombras dançantes nas pinturas, conferindo-lhes uma vida própria. Eu me aproximei de uma das minhas obras favoritas, uma paisagem abstrata que sempre conseguia acalmar meu espírito ansioso. As cores vibrantes e as formas caóticas me lembravam de que a beleza pode surgir mesmo do caos.
E então, eu o vi. Corpo alto e forte. Ombros esguios. Fios de cabelo loiro-escuro caíam lisos ao redor dos olhos. Ele estava parado diante de uma grande tela abstrata, o terno impecável contrastando com a desordem colorida da pintura. Seus olhos, profundos e enigmáticos, pareciam absorver cada detalhe da obra, mas quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, percebi que ele havia capturado algo muito mais interessante: minha atenção.
Eu nunca havia visto alguém tão hipnotizante. A forma como ele se movia, a confiança em seu semblante, tudo nele exalava um perigo irresistível. Meu coração acelerou, e por um breve momento, o mundo ao meu redor desapareceu. Eu senti, instintivamente, que a partir daquele momento, minha vida nunca mais seria a mesma. Loucura, eu sei. Mas senti!
Havia algo nos seus olhos absurdamente azuis. Um mistério profundo que me atraía como um ímã. Ele se aproximou em um passo, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha.
— Interessante, não é? — Sua voz era baixa e suave, com um sotaque que denotava sofisticação. — Essa pintura parece capturar a essência da desordem humana. Eu mal conseguia encontrar minha voz.
— Sim... é uma das minhas favoritas — respondi, tentando manter a compostura. — Acho fascinante como o caos pode ser transformado em algo tão bonito.
Ele sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.
— Você parece entender a arte em um nível profundo. Muitos não conseguem.
Conversamos por dez ou quinze minutos, trocando impressões rápidas sobre as obras ao nosso redor, mas sem nos aproximar. Cada palavra sua era cuidadosamente escolhida, como se ele estivesse preocupado em dizer aquilo que eu gostaria de ouvir. Havia uma aura levemente sufocante ao seu redor, algo que me impedia de querer arredar os pés dali, sair de perto dele.
Sentia uma mistura de excitação e medo. Quem era aquele homem? Eu nunca tinha o visto ali. E por que eu estava tão repentinamente atraída por ele? Enquanto conversávamos, percebi que ele evitava perguntas pessoais como: você vem sempre aqui? Trabalha por perto? Estudou arte?, desviando habilmente o assunto para mim ou para a arte. Não que eu estivesse falando muito sobre minha pessoa, embora tenha percebido que ele quisesse saber. O homem sabia bem como desenrolar uma boa conversa, e eu me vi sendo puxada cada vez mais para sua órbita, mesmo que ainda estivéssemos parados no mesmo lugar.
— Você não... não disse o seu nome.
Ele sorriu outra vez.
— Meu nome é Jean-Luc. Jean-Luc Moreau. — A forma firme como ele pronunciou seu nome, me enviou um segundo arrepio pela minha espinha. — E você, mademoiselle, como se chama?
— Claire. Claire Dubois — respondi, sentindo uma estranha sensação de inevitabilidade ao dizer meu nome.
Jean-Luc então se moveu, caminhando em minha direção. Passos calmos e firmes. Quanto mais ele se aproximava mais meu interior vibrava de forma estranha e desconhecida. Quanto mais perto, maior e mais intimidante ele se tornava. Engoli em seco quando parou à minha frente. Cuidadosamente, ele apanhou minha mão, e eu senti o calor de sua palma contra a minha.
Meus olhos não piscavam. Minhas orbes ardiam secas. Eu de fato estava hipnotizada por ele. Quando seus lábios tocaram o dorso de minha mão, meu coração disparou. Senti-o bater freneticamente na garganta, abalando o peito. Eu só havia sentido isso uma única vez na vida. O dia em que me apaixonei pelo cara errado.
— É um prazer conhecê-la, Claire. Espero que possamos nos encontrar novamente.
Enquanto ele se afastava, eu fiquei ali, tentando processar o que havia acabado de acontecer. A conversa e o toque dos lábios de um desconhecido em minha pele. O ar escapou de meus pulmões. O ar que eu prendera todo o tempo enquanto ele estava próximo.
Jean-Luc Moreau. O nome ressoava na minha mente como uma melodia inacabada. Algo me dizia que aquele encontro fortuito não era apenas uma coincidência. Eu sentia que o universo havia conspirado para isso. Acreditava nisso.
Saí da galeria naquela noite com uma sensação de inquietude. O homem misterioso esperava me encontrar de novo. E eu já ansiava por isso. Um sorriso ingênuo estampou o meu rosto. Sentia-me feliz que alguém como ele – um homem de beleza tão invejável que poderia perder seu tempo com alguém mais atraente do que eu – havia se interessado por mim, a garota sem graça que tinha como único assunto: falar sobre arte. Ele parecia ser demais para minha pessoa, mas não queria pensar nisso naquele momento.
Sentia um lampejo no peito que mostrava que minha vida estava prestes a mudar de alguma maneira. Arrepios se arrastavam pelo corpo eriçando cada fio em minha cabeça, subindo pela nuca. No fundo, uma voz silenciosa sussurrava que eu estava prestes a me envolver em algo muito maior do que eu podia ver.
Jean-LucClaireNa manhã seguinte, o médico apareceu. Estava apenas eu e ele enquanto me examinava. Olhei-o temorosa.— Meu resultado de sangue está pronto?— Sim. Você está bem.Encarei-o tensa, esperando ele dizer algo sobre a gravidez.Quando retirou o estetoscópio dos ouvidos, ele respirou fundo e olhou-me.— Fique tranquila, senhorita Dubois. Em trinta anos aprendi a não me meter em assuntos particulares. Fui chamado aqui para tratar seu envenenamento. E você está bem.Eu respirei aliviada, sentindo a tensão se esvair. Assenti para ele e sussurrei um obrigada.O homem se levantou, pegou sua maleta e foi embora, retornando quatro dias depois. Eu ainda sentia os efeitos da intoxicação pelo gás. Minha cabeça pesava, meu estômago embrulhava constantemente, e meus pulmões pareciam queimados de dentro para fora. Mas nada disso me incomodava mais do que a raiva que crescia dentro de mim.Jean-Luc havia prometido que eu estaria segura. Prometeu que nada aconteceria comigo. Mas ali estava
Jean-LucO tempo estava contra mim. Cada segundo que passava, Claire se afastava ainda mais, presa nas mãos de desgraçados que nem ao menos tinham um rosto para mim. Ainda. Mas eu encontraria. Não importava o preço.Dirigi sem rumo, os dedos tamborilando contra o volante, minha mente um turbilhão de pensamentos e cenários possíveis. Meu primeiro alvo era a rede de informantes espalhados pela cidade, já que René não conseguiu rastrear o vídeo que parecia ser ao vivo. Os informantes sempre sabiam de algo, ou davam um jeito de saber.O primeiro não quis colaborar. Uma surra bem dada e um cano de pistola enfiado na boca o fizeram mudar de ideia. Mas a informação não era boa. O segundo se recusou a falar, mesmo com um revólver pressionado contra o joelho e minha fúria a centímetros de distância de sua face. Um disparo e um grito depois, ele me deu uma pista, um nome. Dimitri Petralis.— Os gregos... — disse René, estendendo-me um pano limpo. — Entraram em nosso território sem serem notados
Jean-LucAo chegar ao hospital, encontrei Charlotte na sala de emergência.— O senhor não pode entrar aqui! — disse um enfermeira, quando invadi a sala de atendimento, abrindo as cortinas, procurando pela melhor amiga do amor da minha vida. Quando os olhos de Charlotte alcançaram os meus, eles desaguaram. O corte inchado em sua testa era fundo e recebia pontos.— O que aconteceu? — perguntei, a voz firme, mas carregada de fúria.Charlotte respirou fundo, ainda assustada e em prantos. Segurei seus braços com certa força, fazendo-a me olhar novamente.— Vamos, Charlie! — falei firmemente. — O tempo pode custar a vida dela. Conte-me o que sabe?— O senhor precisa se afastar e se retirar, já chamamos a segurança! — disse o médico.Virei meu rosto para ele, encarando-o com um desejo imenso de lhe arrancar a língua.— Sugiro que você se afaste — Meu tom saiu baixo, rouco e ameaçador.O homem, que tinha a mão em meu ombro sentiu o perigo. Com olhos assustados, ele se afastou, recuando para o
ClaireQuando acordei, não sabia onde estava nem quanto tempo havia se passado. O lugar era frio, úmido e cheirava a mofo. Eu estava em uma sala grande e suja, com janelas tapadas por ripas de madeira. Tentei ver pelas frestas, mas enxerguei nada, não havia luz do sol lá fora. Meu corpo estava pesado, a cabeça latejava. Sentei-me no colchão velho e fedido onde meu corpo havia sido depositado.Tateei o chão ao redor, tentando encontrar algo, qualquer coisa que pudesse usar como arma, mas não havia nada além de poeira e embalagens vazias de bolinhos. Respirando fundo, tentando conter a ânsia e coloquei-me de joelhos. O odor velho de urina impregnou meu nariz causando-me ainda mais enjoo.— Socorro! — tentei gritar, ainda me sentia fraca.A claridade no lugar era fraca, vinha de uma lâmpada na parede. Tentei observar o local. Parecia ser uma casa abandonada. Depois de alguns minutos, consegui me erguer. Apoiando-me nas paredes, caminhei devagar até a porta. Estava trancada. É óbvio que e
ClaireApós o almoço, o telefone dele tocou. Eu estava deitada em seu colo, enquanto conversávamos sobre filmes ruins e discordávamos veemente sobre isso. Estávamos agindo como pessoas normais. Mas quando seu semblante mudou ao encarar a tela do celular, eu soube que o faz de conta havia acabado. Ele pediu licença e se levantou, caminhando em direção a porta. A postura de seu corpo mudou completamente. Ele falava baixo, mas consegui ouvir um palavrão sair duro entre dentes.— Preciso sair. É urgente — disse para mim ao desligar a chamada.Assenti, tentando conter a frustração.— Eu... vou para a casa da Charlie.Jean-Luc segurou minha mão, os olhos carregados de preocupação.— Fica aqui. Eu volto logo.— Não vou passar o dia sozinha. Eu vou para a Charlie. — Mantive o tom firme, encarando-o.Ele hesitou por um instante, depois suspirou e cedeu.— Vou te levar.Quando chegamos em frente a casa, virei-me para ele, encarando-o. Já estava sendo afetada pela sua tensão.— Me avise quando a
ClaireQuando a festa acabou e quase todos foram embora, René se despediu anunciando que levaria Charlotte para casa. Jean-Luc, por outro lado, se trancou no escritório com dois de seus homens, discutindo algo que me foi vedado. Suas esposas e o filho de um deles, um bebê de seis meses, ficaram na sala de estar. Elas conversavam entre si. Às vezes me olhavam e sorriam sem graça, mas em momento algum tentaram me integrar à conversa. A mãe da criança percebeu que eu olhava demais para seu filho.— Quer pegá-lo?Isso pegou-me de surpresa. Olhei-a com espanto.— Não — disse baixinho, forçando um sorriso.O menino era lindo. Pele escura, olhos pretos como a noite e bochechas grandes. Apesar de sonolento, ele me olhava e sorria receptivo. Instintivamente minha mão foi à barriga, repousando-se ali. Despedindo-me com um breve boa-noite, deixei a sala. A casa estava silenciosa, apenas o crepitar das lareiras preenchia os cômodos. Caminhei até a biblioteca, onde o fogo projetava sombras longas
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