Mundo ficciónIniciar sesiónA viagem a Portugal foi tranquila. O jatinho pousou suavemente na pista particular da mansão dos meus pais. A propriedade era imponente: a fachada branca se estendia por dois andares, com colunas clássicas e janelas amplas que refletiam a luz do sol. Os jardins eram perfeitos, desenhados com simetria, com caminhos de pedra cercados por árvores podadas e canteiros de flores coloridas. Pequenas fontes espalhavam água cristalina, criando um clima de calma e imponência ao mesmo tempo.
Desci do jatinho com o sol já alto, e meus pais, Julian e Victoria, me aguardavam na pista. — Meu filho, estávamos com saudades — disse minha mãe, abraçando-me com força. Meu pai, com a sua postura sempre imponente, apertou minha mão. Um gesto firme, carregado de presença, a quem certamente eu havia puxado. Fomos até a mansão. Na entrada, Bernadete, a governanta que trabalhava conosco desde que eu me entendia por gente, nos recebeu com reverência: — Senhor, que bom tê-lo aqui novamente. — Obrigado, Bernadete — respondi, deixando a mala ao lado do sofá. Minha mãe, Victoria, brasileira de nascimento, havia decidido viver definitivamente em Portugal desde o falecimento de minha avó. Meu pai, Julian, era português, com o jeito calmo e firme que sempre combinou com o temperamento dela. Assim que entrei na mansão, subi para o quarto. Estava cansado e precisava de um banho e descanso. Peguei o celular e notei que não havia mensagens de Clara. Para mim, isso era estranho — mulheres sempre me procuravam no dia seguinte, mesmo quando eu não as queria. Resolvi então escrever eu mesmo: “Oi.” Alguns minutos depois, a resposta chegou: “Oi, Lorenzo. Estava mesmo pensando em você.” Perguntei sobre o que ela se referia, e Clara respondeu que falava sobre nossa noite, nossa conexão, algo que havia mudado nela. Confesso que gostei de saber disso. Ela explicou que não podia falar muito ao telefone, pois Matteo não gostava. Entendi e desejei que o trabalho dela fosse tranquilo. Liguei para Matteo: — Senhor Bianchi — disse ele ao atender. — Matteo, trate Clara bem. Não faça pressão nem coloque medo. — falei firme. Antes que pudesse continuar, minha mãe bateu à porta: — Venha, Lorenzo, você tem visitas. — Visitas? — perguntei, surpreso. — Acabei de chegar, quem estaria aqui? Ao descer as escadas, ouvi vozes. No salão estava Eduardo Ribeiro, um empresário extremamente rico e influente, acompanhado de sua filha, Sofia Ribeiro. Ao me ver, Eduardo se levantou para me cumprimentar: — Lorenzo, quanto tempo! A última vez que nos vimos você ainda era um garoto, agora está um homem feito. Sofia me observava atentamente, de forma curiosa e detalhada. Não entendia a razão da visita, e o cansaço me dominava. — Com licença, preciso descansar. — disse, subindo as escadas, sem dar muita atenção à minha mãe, que claramente estava aborrecida. Tomei um banho e dormi. Quando acordei, desci para o jantar. Minha mãe, sempre direta, já comentava sobre Sofia: — Ela é uma moça boa, estudada, de boa família. — Sim, mamãe, não compreendo aonde quer chegar. — falei, enquanto me sentava à mesa. — Quero chegar ao ponto de que você já está passando da idade de casar, e Sofia é a mulher ideal. O pai dela aprova, e nós também. Meu pai apenas me observava em silêncio. — Isso está fora de cogitação. Não tenho tempo para casamentos e, além disso, nem a conheço. — falei, soltando o garfo com impaciência. — Vou sair. Naquela noite, decidi dormir em um hotel. Minha mãe tinha um temperamento difícil, e apenas meu pai sabia lidar com ela de maneira calma. Eu precisava me afastar, pelo menos por algumas horas, do turbilhão que era a vida na mansão. No hotel, liguei para meu pai e combinamos o local onde nos encontraríamos no dia seguinte para irmos juntos ao escritório. Deitei-me e permaneci por um tempo olhando o teto. Às vezes, me surpreendia o fato de Clara não saber exatamente quem eu era. Meu rosto aparecia com frequência em revistas e jornais, nas colunas de economia e nas matérias sobre o setor de luxo. Era o tipo de reconhecimento que nunca busquei, mas que me acompanhava. Mesmo assim, ela parecia alheia a tudo isso — e, curiosamente, eu gostava disso. Na manhã seguinte, encontrei-me com meu pai e fomos até o escritório. O ritmo ali era o de sempre: precisão, resultados e respeito. Após a reunião, decidi passar na loja, queria ver como estavam as coisas. Tudo impecável — e não poderia ser diferente. Eu não permitia rachaduras no meu império. Voltei à mansão no fim da tarde. No dia seguinte, viajaria para Nova York. Não aceitei as críticas de minha mãe; ela dizia que eu não parava em lugar algum, mas a verdade era simples: eu queria ver Clara. O celular vibrou. O nome na tela: Beatriz. Suspirei, mas não atendi. Não era o momento. Jantamos em silêncio. Minha mãe, visivelmente desapontada, evitava me olhar diretamente. Meu pai, como sempre, mantinha-se sereno, o olhar firme sobre o copo de vinho. Mais tarde, caminhamos juntos pelos jardins da mansão. As luzes amareladas refletiam nas folhas úmidas, e o cheiro de terra molhada misturava-se à fumaça do charuto que acendemos. — Você nasceu pra isso, Lorenzo. Devo admitir… o sucesso da empresa depois que você assumiu me surpreende. — disse meu pai com o tom grave e orgulhoso que lhe era natural. — Estou apenas dando continuidade ao seu legado, — respondi, soltando a fumaça lentamente. Ficamos em silêncio por um tempo. Era um daqueles silêncios confortáveis, onde as palavras perdem o sentido e o respeito fala mais alto. Após fumarmos, subi para o quarto. Desta vez, resolvi não mandar mensagem para Clara. Aquela noite, eu só queria paz na mente. Ela nem sequer sabia que eu estava em Portugal — e talvez fosse melhor assim.






