Acordei antes do despertador.
O céu de Sevilha ainda estava num tom pálido, misturado entre cinza e azul, e a luz fraca que entrava pelas frestas da cortina deixava o quarto com uma tranquilidade adormecida. Giulia dormia no quarto ao lado, respirando devagar como quem não tem pressa de acordar para o mundo.
Mas eu já estava desperta — e inquieta.
A noite anterior parecia ter deixado uma marca em mim. As palavras de Miguel, a forma como ele me ouviu, os olhos atentos, sem julgamento. E, principalmente, aquele último instante antes da despedida. Aquele quase toque. O silêncio cheio de tudo que não dissemos.
Me vesti devagar e fui até o quarto de Giulia. Ela abriu os olhos assim que cheguei, como se tivesse me sentido por perto.
— Bom dia, estrelinha — murmurei, sentando-me na beira da cama.
— Isa… você vai embora hoje?
Meu coração deu um salto.
— Claro que não. Por que está perguntando isso, meu amor?
Ela deu de ombros, o rostinho amassado de sono.
— Porque ontem você e o papai estavam