Giulia estava deitada de bruços no tapete da sala, desenhando com canetinhas espalhadas por toda parte. O sol da tarde atravessava as cortinas brancas, projetando sombras suaves nas paredes, e por um momento, tudo parecia tranquilo. Tão tranquilo quanto minha vida conseguia ser ultimamente.
Me sentei no sofá, observando os movimentos pequenos e concentrados da minha filha. Ela mordia a ponta da língua ao tentar desenhar um coração perfeito, e achei aquilo absurdamente bonito. Delicado. Quase frágil.
— Papai? — ela me chamou sem levantar o rosto.
— Hum? — respondi, já sentindo que vinha pergunta difícil. Ela sempre tinha uma dessas guardadas.
— Você acha que a mamãe ia gostar da Isa?
A pergunta me atravessou como uma lâmina bem fina: sem alarde, mas profunda. Senti o ar escapar dos meus pulmões antes que eu pudesse formular qualquer coisa. Fiquei ali, parado, olhando para a minha filha como se ela tivesse acabado de me perguntar algo impossível de responder. Porque era, de certa forma.