O som do telefone ecoava no escritório antes mesmo de eu entrar.
As reuniões da manhã tinham me deixado exausto, e o café que eu segurava parecia mais uma tentativa de sobrevivência do que uma escolha. Respirei fundo e encostei na porta, observando a vista panorâmica da cidade de São Paulo. Aquele mar de prédios, concreto e pressa era o reflexo perfeito da minha vida — bonita à distância, sufocante de perto.
— Senhor? — a voz da secretária soou pelo interfone. — A reunião com o conselho foi adiantada para as onze.
Assenti, mesmo que ela não pudesse me ver.
— Tudo bem, pode confirmar.
Enquanto ajustava a gravata, vi meu reflexo no vidro. Havia olheiras marcadas, a expressão cansada de quem há tempos não sabia o que era dormir sem interrupções. Desde que Clara nasceu, minha rotina se resumia a planilhas, metas e relatórios — um ciclo que parecia não ter fim.
E, por mais que eu justificasse aquilo como “garantir o futuro dela”, ultimamente me perguntava se não estava, na verdade, me esco