Fechei a porta da galeria com um peso estranho no peito, como se estivesse carregando o mundo inteiro dentro dele. As luzes se apagaram atrás de mim, e o reflexo do vidro mostrou meu próprio rosto, cansado e tenso. Tudo que eu conseguia ouvir na minha cabeça eram as palavras dela, o tremor na voz quando admitiu que me amava, o olhar quando concordou em silêncio que a bebê era minha.
Entrei no carro e respirei fundo, sentindo os dedos tremerem sobre o volante. Peguei o papel amassado no bolso e digitei o endereço no GPS. Madrid parecia mais viva naquela noite, com as luzes dos postes e das janelas refletindo nas ruas estreitas, mas dentro de mim só havia silêncio.
Dirigi devagar, e a cada semáforo meu coração disparava como se estivesse indo para o primeiro dia do resto da minha vida.
Em algum ponto do caminho, pensei: Será que devo levar alguma coisa? Um presente, talvez. Algo que… fizesse sentido. Sem pensar muito, estacionei diante de uma loja de departamentos ainda aberta e entrei.