A chuva em Valdívia não cessava. O vento atravessava as ruas vazias, empurrando o nevoeiro que subia do rio e engolia a cidade em uma bruma espessa e úmida. As luzes do carro refletiam nas poças d’água, e o som dos pneus sobre o asfalto molhado parecia o único ruído vivo na madrugada.
Amélia dirigia sozinha.
Não dissera nada a Isabel, nem a Gabriel. A mensagem ainda pulsava em sua mente, cada palavra gravada como uma ameaça: “Se quer salvar Teresa, venha sozinha.”
Ela sabia que era uma armadilha, mas algo dentro dela — talvez a culpa, talvez a necessidade de finalmente fechar o círculo do passado — a empurrava adiante. A antiga fábrica Monteiro se erguia no horizonte, enorme, silenciosa, um esqueleto de ferro e concreto esquecido pelos anos.
O local onde Adriano construíra o império, e onde, segundo boatos, tudo começara a ruir.
Amélia estacionou o carro e saiu, o vento frio cortando-lhe o rosto. O portão estava entreaberto. Ela empurrou devagar, o rangido ecoando como um gemido. Dent