O frio cortante de Valdívia atravessava as paredes úmidas do galpão abandonado. O vento soprava pelas frestas das janelas quebradas, misturando o som da chuva ao farfalhar dos ratos e o gotejar incessante das telhas. Teresa acordou com o corpo dolorido, amarrada a uma cadeira no centro do cômodo escuro. A luz vinha apenas de uma lâmpada pendurada, oscilando como se o lugar respirasse.
Tentou se mover, mas as cordas nos pulsos a feriram. A lembrança do que acontecera voltava em fragmentos — o barulho do portão se abrindo, uma voz masculina chamando seu nome, o pano úmido pressionado sobre seu rosto. E então, o escuro.
Agora, sozinha, Teresa sentia o medo misturado à culpa. Eles me encontraram, pensou. Eles sabem da conta.
O som de passos ecoou no corredor. A porta se abriu lentamente, revelando um homem alto, vestindo sobretudo e chapéu escuro. O rosto estava parcialmente coberto pela sombra, mas quando ele falou, a voz soou calma, quase cortês.
— Boa noite, senhora Valente. Espero que