O tempo passou devagar em Santa Aurélia. Três meses haviam se escoado desde a fuga de Adriano e da divulgação da gravação. O escândalo que antes manchava o nome de Isabel e Gabriel desaparecera aos poucos, substituído por uma curiosa reverência. As pessoas voltavam a sorrir para eles nas ruas, os negócios da família Ferraz prosperavam novamente e o solar, que um dia parecera um refúgio em ruínas, agora era o coração de uma nova vida.
O jardim estava cheio de flores. Isabel caminhava entre elas, o vestido simples balançando ao vento. Nas mãos, segurava um maço de cartas antigas — as últimas coisas que decidira queimar antes de começar, de fato, o novo capítulo.
Gabriel a observava da varanda, apoiado na bengala que ainda usava por causa do ferimento. O olhar dele misturava orgulho e carinho.
— Está pronta? — perguntou.
Ela sorriu, o fogo refletido nos olhos.
— Mais do que nunca.
Jogou as cartas na chama, vendo o papel se transformar em cinzas. Cada pedaço que desaparecia levava consigo