A chuva persistia sobre Santa Aurélia, fina, gelada, como se a cidade respirasse em expectativa. No estacionamento abandonado atrás do velho motel da estrada, Clara Menezes observava o quarto número sete, o mesmo que o informante dissera abrigar Adriano Monteiro. O relógio marcava duas da manhã, e o vento batia forte contra o capô do carro.
O medo era real, mas a raiva o superava. Clara pensava em Isabel, em Gabriel ferido, na maneira como Adriano corrompia tudo o que tocava. Não podia esperar reforços, não podia deixar que ele fugisse outra vez.
Ajustou o casaco, prendeu o cabelo e pegou o gravador escondido no bolso interno.
A porta do quarto estava entreaberta. O cheiro de álcool e cigarro era forte. Adriano estava sentado à mesa, os olhos vermelhos fixos em uma garrafa quase vazia. Quando ouviu o ranger da porta, levantou a cabeça devagar.
— Clara Menezes… — murmurou, com um meio sorriso. — Sabia que viria. Sempre teve um instinto irritante para se meter onde não devia.
Ela entrou