Adrian
A lua da noite anterior ainda parecia queimada na minha pele, como uma marca que não desaparecia. Eu não conseguia afastar de mim a lembrança dos olhos dela — olhos que me perfuraram com pânico e repulsa. Eu nunca tinha sentido dor tão funda como naquele instante. Não a dor da transformação, não os ossos se quebrando e rearrumando sob a lua, mas a dor de ver Elara me olhar como se eu fosse um monstro.
Eu precisava vê-la de novo. Precisava explicar. Precisava dizer que não havia perigo, que eu jamais a machucaria. Que aquilo que ela viu não era tudo o que eu era.
Mas Cael estava me esperando quando voltei para a clareira da alcatéia. Ele me conhecia demais, e antes mesmo de eu abrir a boca já lançou aquele olhar carregado de censura.
— Onde você pensa que vai? — ele perguntou, os braços cruzados, o semblante pesado como pedra.
Suspirei fundo. Ele era meu amigo, quase como um irmão, mas também era a consciência que eu não queria ouvir.
— Preciso voltar lá, Cael — respondi sem rod