CAPÍTULO 87
Quando a dor da culpa não é o suficiente para o perdão
Eduard ficou. Revezou entre a recepção e a porta de vidro que dava para o corredor da UTI. Não tinha coragem de ir embora, nem coragem de pedir para entrar. Sentou no chão, como Caio antes dele, os cotovelos nos joelhos, a mão no cabelo. Reviveu cena por cena dos últimos meses: sua ausência, sua bebida, sua raiva, o vídeo, o beijo roubado na cozinha do hotel, a mentira ensaiada, o enterro encenado, o caixão vazio… e então o verdadeiro. O berço montado no quarto de hóspedes. A cadeira de amamentação. A cômoda.
— Era pra ser nosso — disse pra ninguém, com a voz falhando. — E eu deixei tudo estourar na mão dela.
Quem passou por ele ouviu apenas:
— Me perdoa.
O relógio parecia preso. Às 4h27, uma enfermeira saiu para trocar um formulário. Eduard se ergueu.
— Alguma mudança?
— Estável — respondeu, gentil. — É bom. O corpo tá lutando.
Ele agradeceu com um gesto. Sentiu o peso da palavra “luta” como se fosse um veredito.
O s