Depois de passar a manhã tentando organizar meus pensamentos, decidi mexer em uma das caixas que Brandon havia trazido do hospital. Entre livros, roupas e um caderno de anotações que parecia ser meu, encontrei meu celular antigo, o coloquei para carregar. O aparelho estava carregando, discreto, na tomada da sala enquanto eu terminava de revisar o conteúdo de uma caixa, ao terminar fui até o celular. Tinha algumas rachaduras nas laterais e uma película bem desgastada, mas ao ligá-lo, vi que ainda guardava um pedaço inteiro da minha vida. Havia centenas de fotos.
Deslizei o dedo pela tela devagar, como se qualquer gesto mais brusco pudesse quebrar o encanto. A maioria das imagens era de mim e de Brandon. Sorrisos, caretas, jantares improvisados, flores no café da manhã, ele me olhando com uma adoração que doía de tão bonita.
Um vídeo chamou minha atenção.
Toquei. Era nosso aniversário de namoro, aparentemente. Eu estava com um vestido vermelho, sentada num restaurante à luz de velas. Brandon filmava escondido, rindo baixinho enquanto dizia:
— Essa mulher... ela é a minha confusão favorita. E hoje faz dois anos que ela entrou na minha vida com uma chuva de palavras e uma lista de músicas que mudaram tudo.
Desliguei o vídeo antes que as lágrimas escapassem. Algo dentro de mim começava a ceder, como se meu coração estivesse escavando memórias enquanto a mente permanecia em silêncio.
Naquela mesma tarde, Brandon bateu de leve na porta do quarto.
— Que tal dar uma volta?
— Agora? — olhei pela janela. O céu estava começando a se dourar.
— Pensei em te levar a um lugar. Você costumava ir lá sempre que precisava lembrar por que escolheu o silêncio em vez do caos.
A curiosidade me venceu.
Minutos depois, estávamos no carro. O caminho era longo, mas tranquilo. Não conversamos muito. Brandon deixou uma playlist tocar, e era toda feita de músicas suaves, calmas, daquelas que abraçam sem pedir permissão.
Chegamos a um mirante. Um campo alto com vista para a cidade inteira. O sol já estava começando a cair, tingindo tudo com tons de laranja e rosa. Descobri que amo o entardecer, amo essa vibe que ele traz para nós ao deixar tudo tão lindo.
— Nós vínhamos aqui desde o começo. — ele disse, abrindo uma pequena manta no chão e indicando para que eu me sentasse — Era o seu refúgio.
Me acomodei, observando a imensidão à nossa frente. O vento era fresco e acariciava os cabelos, bagunçando um pouco os fios soltos. Uma sensação de já ter vindo aqui me envolve, Brandon disse a verdade, esse lugar é muito familiar para mim.
— Você dizia que daqui, a cidade parecia menos barulhenta. Que o mundo ficava mais fácil de entender quando visto de cima.
— Eu costumava dizer isso?
— Sempre. — ele sorriu, olhando para mim com uma ternura imensa — E você sempre trazia morangos. Então... — puxou uma pequena tigela da mochila — Improvisei.
Sorri, mesmo com os olhos marejados. Peguei um morango e levei à boca. O sabor doce e ácido se espalhou na língua. Foi como reencontrar uma velha amiga.
— Obrigada. — Murmurei.
— Por quê?
— Por continuar me amando, mesmo com o coração partido.
Ele suspirou, longamente.
— Naira... eu não sei amar você de outro jeito. Mesmo quando você não lembra, mesmo quando me olha como se fosse a primeira vez... meu amor por você nunca mudou. Ele só esperou. Em silêncio.
Virei o rosto para ele. O céu por trás de Brandon fazia com que seus olhos parecessem ainda mais intensos. O cabelo dele dançava com o vento. E havia algo ali, uma urgência, uma fragilidade, uma esperança tão pura que me deixou sem ar.
— Brandon...
— Eu não vou apressar nada. Eu juro. Mas... se algum pedacinho de você quiser... mesmo que só um pedacinho pequeno... — sua voz baixou até quase virar sussurro — Posso te beijar?
Meu coração bateu forte. Forte demais. E então, sem pensar, assenti.
Ele se aproximou devagar, como se cada centímetro respeitasse o tempo do meu corpo. Quando nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância, ele parou, esperando minha resposta final nos olhos. Fui eu quem encurtou o espaço entre nós.
O beijo foi leve no começo. Como um reencontro tímido entre duas almas que se conheciam, mas ainda tateiam no escuro. Depois, com o tempo e o calor do toque, tornou-se mais profundo, mais real. Havia doçura, saudade, respeito. E amor. Muito amor. Quando nos separamos, ainda com as testas encostadas, ele sorriu.
— Eu esperei por isso desde o dia em que você abriu os olhos e me perguntou quem eu era.
— E agora?
— Agora... agora eu posso respirar de novo.
Fechei os olhos por um momento, deixando a brisa lavar meu rosto. O beijo despertou algo dentro de mim, não sei dizer o quê. Só sei que quero beijá-lo de novo, quero muito.
Ali, naquele mirante, cercada por silêncio e céu, eu entendi algo importante: não era apenas sobre recuperar memórias. Era sobre reconhecer sentimentos. E aquele beijo, aquele instante... não precisava de lembrança para ser verdadeiro. Era real. E isso já era um começo.
Brandon e eu estávamos caminhando um na direção do outro, um passo por vez. No nosso pequeno ritmo, hoje aconteceu o primeiro beijo, algo que eu realmente temia muito e agora depois que aconteceu passei a desejar cada segundo que o meu coração b**e.
Eu não sei e não tenho como imaginar como era a vida com ele antes desse maldito acidente, mas posso dizer que a vida agora, com ele, parece um romance igual ao que eu li no último livro que ele me deu enquanto estava no hospital. Eu me sinto a protagonista daquele romance.