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2. A CALMA ANTES DA TEMPESTADE

Não disse nada, não podia deixar que as dúvidas entrassem em meu coração. Ilán era tão maravilhoso e complacente em tudo, sem me reprochar o abandono causado pela minha dedicação ao trabalho, que não poderia ser aquele homem que Amelie pintava.  

—Não se preocupe e vá tranquila. Amaya é como uma mãe para mim; você verá que seus medos são infundados —afirmei, enquanto desdobrava o vestido—. O casamento está próximo. Vou sentir sua falta, mas não vou pedir que faça essa viagem e deixe tudo para trás. Minha sogra tem razão; este é o momento ideal para lançar minha marca lá e sei que não há ninguém melhor do que você para me representar.  

Amelie ficou em silêncio e me olhou com pena. Agora percebo que estava completamente cega pela minha sogra e meu noivo, Ilán. Embora eu não tivesse provas concretas que sustentassem suas suspeitas, algo não a convencía totalmente sobre os dois. Sabia que ela rezava fervorosamente para estar errada. Ela me amava como se fosse sua irmã e tinha me visto sofrer demais. Apenas desejava que eu realmente pudesse criar a família que tanto almejava.  

—É precioso e único! —exclamou ao ver o belo vestido de noiva, uma criação minha —. Você será a noiva mais linda de todas. Não se esqueça de me chamar por vídeo nesse dia para eu te ver, tudo bem?  

—Tudo bem. Quem sabe, talvez eu consiga adiar o casamento para que você tenha tempo de voltar; não tenho mais ninguém. Afastei-me de todos os nossos amigos —disse, passando a mão pelo fino tecido branco com saudade—. Ainda não entendo como me deixei convencer a casar tão rápido com Ilán, não é?  

Não respondeu diretamente. Sabia como aquilo havia acontecido: minha sogra insistira que nos casássemos o mais rápido possível. A conversa foi interrompida pela entrada da assistente que substituiria Amelie.  

—Seu vestido é lindo, Ivory —disse com uma familiaridade que fez com que ambas direcionássemos a cabeça para ela—. Desculpe, senhorita Ivory. Sou Dafne, a assistente recomendada pela senhora Amaya. Aqui estão meus documentos.  

Os dias que se passaram foram um turbilhão: a partida de Amelie, os preparativos do meu desfile, a organização do casamento. Felizmente, Dafne era tão eficiente quanto me dissera minha sogra. Aliviava bastante meu trabalho, e por isso eu estava profundamente agradecida.  

Tudo havia acontecido tão rápido, refletia enquanto observava minha imagem no espelho. O dia que havia sonhado e temido em partes iguais havia chegado: um dia que prometia ser o limiar de uma vida compartilhada, de um "nós" em vez de um "eu".  

Estava diante do espelho, meu reflexo vestido de branco puro, uma visão de esperanças e promessas.  

—Mamãe, olhe para mim —sussurrei à imagem que me encarava, buscando nela o eco de uma presença que já não estava mais. —Obrigada por cada gota de suor, por cada noite sem descanso. Olhe para mim, mamãe, seu legado vive em mim.  

As palavras pairavam no ar carregado de perfume e nostalgia quando Amaya, minha sogra, irrompeu na sala com a graça de quem está acostumada a dominar o espaço ao seu redor.  

—Com quem você está conversando, querida? —perguntou com um sorriso que não atingia os olhos.  

—Oh, eu só estava dizendo à minha mãe o quanto gostaria que ela estivesse aqui hoje —confessei, enquanto uma lágrima traiçoeira ameaçava transbordar a represa de meus cílios.  

—Ah, mas não estrague essa maquiagem linda —advertiu Amaya com um tom que pretendia ser leve, estendendo-me um lenço de seda—. Hoje é um dia de alegria, pelo menos para mim —disse com um sorriso velado—. Não demore; eu acompanharei Ilán até o altar —parou um instante e acrescentou—: Sua mãe ficaria orgulhosa de te ver seguir seus passos.  

—Seus passos? —repeti para mim mesma enquanto Amaya me examinava com um sorriso estudado. Não era que eu tivesse vergonha do trabalho honesto que minha mãe exerceu como auxiliar de limpeza para me dar um futuro melhor, assim como meu pai, que foi jardineiro.  

—Seus passos? O que você quis dizer com isso, sogra? Não se esqueça de que, graças ao enorme sacrifício que fizeram meus pais, pude estudar para não seguir seus passos. Sou a proprietária de uma cadeia de lojas de luxo, então não me vejo limpando pisos como ela. Embora não sentiria vergonha se tivesse que fazê-lo —disse, sorrindo diante do olhar frio da minha sogra—. Muito bem, já vou, minha sogra. Ou devo começar a chamá-la de mãe a partir de hoje? —perguntei com um sorriso inocente.  

Amaya não respondeu; limitou-se a me observar em silêncio, um silêncio que, por um instante, me pareceu mais pesado do que palavras.  

—Só não demore, Ivory. Você verá por que te acabei de dizer que a partir de hoje você será como sua mãe —respondeu Amaya com um sorriso que não chegava a seus olhos—. Preparei uma grata surpresa para você, pelo menos para mim é.  

—Surpresa? Que surpresa? —me virei para vê-la sair—. Sogra... que surpresa? Não gosto de surpresas...  

Mas essas palavras não me prepararam para o que me esperava no altar. Aquilo não podia ser verdade. Devia ser uma piada de muito mau gosto.  

O noivo de Ivory era Ilán Makis, na plenitude de sua juventude e único herdeiro de uma das dinastias empresariais mais renomadas, encontrava-se no auge de sua vida quando um tremor inesperado, que ao passar dos dias se tornava cada vez mais intenso, o deixou confinado a uma cadeira de rodas, sem vislumbrar um vislumbre de recuperação.  

Naquele domingo, como de costume, ele estava em seu quarto. O crepúsculo pairava sobre o dia e ele se mergulhava na leitura à tênue luz de uma lâmpada, aguardando a ajuda necessária para realizar sua higiene noturna. De repente, a porta se abriu com estrépito.  

—Mamãe! —exclamou ao vê-la irromper na sala junto com o chofer, vestindo um traje de gala—. O que… o que significa isso? Lembre-se de que detesto sair… e também não di…fruto receber visitas aqui, no meu refúgio per…sonal. Assim, por favor, des…faça qualquer plano que você tenha para isso —articulou com dificuldade, lutando contra o gaguejar que sua condição lhe provocava.  

Sua mãe, imperturbável e sem oferecer uma mirada compassiva, ditou uma ordem cortante ao chofer. Sem trocar palavras, procederam a despir as suas roupas e a vesti-lo com o traje elegante. Ilán se viu indefeso, consumido pela indignação e o choro que brotava de seu ser. Os guardas haviam sido despedidos mais cedo, com a promessa de uma noite tranquila de descanso, e agora sua própria progenitora perpetrava o que ele sentia como um abuso.  

—Vamos nos dirigir à igreja —declarou ela com uma firmeza inquebrantável—. Tudo está pronto. Sua noiva te espera lá. Não se aflija; duvido muito que ela consinta em aceitá-lo, então não coloque essa expressão de desprezo. Estou ciente do seu aversão ao casamento.  

—O que… que disparates você está dizendo, mamãe? —perguntou Ilán enquanto o retiravam de seu quarto.  

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