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A ARMADILHA DA MINHA SOGRA
A ARMADILHA DA MINHA SOGRA
Por: Bris
1. LEMBRANÇA, PESADÊLO OU PREMONIÇÃO?

Exausta pelo trabalho, caí rendida sem me dar conta sobre minha mesa. Pouco a pouco, minha respiração se tornou entrecortada, ecoando no silêncio do escritório. As imagens começaram a se suceder na minha mente uma após a outra; eram flashes de um porão. A escuridão do lugar se entrelaçava com meus próprios medos, um labirinto de sombras que brincava com a fronteira da realidade.  

A fria mesa pressionava contra minha bochecha, a textura áspera e a umidade se infiltravam em meus sentidos como se eu realmente estivesse lá. Com o rosto sulcado por lágrimas que destilavam um medo visceral, observava como a porta se fechava inexoravelmente. A escuridão que me cercava não deixava ver nada. Novamente comecei a chorar desesperadamente, a implorar para que me soltassem, que não me obrigassem a cometer aquele pecado. Gritava com terror e desespero clamando por ajuda.  

O sabor metálico do medo preenchia minha boca enquanto lutava para escapar sem conseguir. O cheiro de mofo e desesperança parecia impregnar o ar que respirava. A sensação de estar presa, de lutar pela minha própria sobrevivência, era avassaladora. Podia sentir como lutava para me manter viva não apenas por mim, mas pela nova vida que crescia dentro de mim, sem sucesso.  

O terrível pesadelo se sobrepunha à clareza do meu escritório; as grades de uma diminuta janela do porão se transformavam em os vergalhões de sombra projetados pelas persianas do meu despacho. A comida trazida pela minha captora se confundia com a lembrança dos almoços compartilhados em silêncio com minha mãe.  

A desesperança pairava sobre mim, densa como a neblina de um amanhecer melancólico. Tinha que encontrar uma saída, não apenas por mim, mas também pela inocente vida que se formava em meu ventre. As paredes pareciam se fechar, cada pedra fria um testemunha muda. As sombras brincavam entre si, formando figuras que desafiavam toda lógica: figuras humanas distorcidas pelo medo e pela escuridão, sussurros que se perdiam no eco do porão. Tentava gritar, mas minha voz se afogava no vazio, um sussurro a mais no coro silencioso do terror.  

O escritório voltava a mim em fragmentos: o tic-tac do relógio, o piscar de uma luz defeituosa, a cadeira que rangia levemente sob meu peso. Mas o porão nunca se afastava totalmente; era uma presença constante cercada de sombras que iam e vinham, sem rostos, com o olhar vazio... Não, me solta, me solta!  

— Ivory…, Ivory…! —Uma forte sacudida me fez saltar e endireitar-me na cadeira. Eu havia adormecido depois de uma longa jornada de trabalho. — O que está acontecendo? Por que você chorava?  

Ainda sem entender que estava acordada, olhei para minha melhor amiga e assistente, Amelie, que me observava preocupada. Minha testa estava sulcada por pérolas de suor e meu olhar ainda refletia o terrível sonho que, há um tempo, me atormentava.  

— Outra vez com esse pesadelo? —perguntou minha amiga enquanto me entregava um copo de água.  

— Obrigada por me acordar, Amelie —respondi, bebendo a água—. A cada dia não sei se o que experimento é um sonho, um pesadelo, uma lembrança ou uma premonição.  

— A que você se refere com isso de lembrança? Lembrança de quê? —perguntou Amelie, sentando-se à minha frente.  

— Não sei! Era muito pequena; acompanhava minha mãe a todos os trabalhos em casas de gente rica. Mas havia uma casa que era tenebrosa, e as empregadas diziam que sempre ouviam alguém chorando atrás das paredes do porão —contou-lhe, voltando a pegar a água com a mão trêmula—. Mamãe me afastava de lá cada vez que me via com o ouvido colado àquela parede. Juro que ouvia alguém chorando! Bom... isso eu acho. Não sei..., outras vezes acho que era mamãe dentro daquele lugar, e eu com ela; ou sou eu. Não sei...! É horrível. O pior é que sonho a mesma coisa sempre, repetidamente, desde que minha mãe morreu. Não será uma lembrança?  

— Uma lembrança? Como pode ser uma lembrança, Ivory? —disse Amelie—. Sua mãe começou a não levar você com ela antes dos cinco anos; como você vai se lembrar de algo assim? Lembre-se que ela te deixava com minha mãe. Você também não ficou presa em um porão; é um pesadelo!  

— Não será uma premonição? —perguntei assustada.  

— Ivory! Você não é supersticiosa —tentou me acalmar Amelie, realmente preocupada comigo.  

O sonho voltava a mim de diferentes maneiras, mas sempre apresentava uma jovem suplicando para ser salva. Às vezes, outras figuras se perdiam na escuridão enquanto minha mãe me escondia. Parecia que todas as lembranças, sonhos ou pesadelos haviam ressurgido na minha mente à medida que a data do casamento se aproximava, e já não contava com minha doce mãe para me ajudar a esquecer.  

— Você deveria considerar a possibilidade de consultar um psicólogo —insistiu minha amiga— e deixe de atender a cada capricho da sua sogra. Te digo, Ivory, aquela mulher não me inspira confiança. Acorde, não é quem parece ser; eu vi como muda a expressão ao sair daqui.  

— Outra vez com isso, Amelie? Sou uma mulher afortunada. Perdi minha mãe, mas o destino me deu uma segunda. Amaya é a sogra que todas gostariam de ter —expressei, levantando-me da cadeira—. Ela é perfeita e você deveria ser grata; foi ela quem me convenceu a expandir minha cadeia de lojas de luxo naquela área e de te colocar à frente.  

— Você tem certeza de que ela não tenta te afastar de mim? —perguntou Amelie, acompanhando-me até onde um manequim exibia um impressionante vestido de noiva—. Ela sabe que sou a única que fala com sinceridade e te impede de continuar dando mais dinheiro. Acorde, Ivory; se você esperar muito para fazê-lo, pode ser tarde demais.  

Parada, abracei minha melhor amiga com afeto. Tinha consciência de que tudo que Amelie dizia era por meu bem-estar. Mas minha sogra havia sido muito generosa comigo. É verdade que pedia dinheiro com frequência, mas eu tinha em sobra; por que não compartilhar?  

— Você não viu Ilán? —perguntei, separando-me dela, para mudar de assunto. — Não sei porque ultimamente não o vejo com frequência e só manda mensagens e presentes.  

— Ivory, você tem certeza de que ele quer se casar com você? Vejo-o muito afeiçoado àquela amiga da sua sogra que trouxe para me substituir —insistiu Amelie, que desconfiava de todos.  

— Deixe de desconfiar de todos, Amelie! Melhores namorados não poderia encontrar, o que você tem que fazer é ficar feliz por mim —disse, vendo como se segurava para não continuar falando. — Vou ficar bem, você verá, serei a mulher mais feliz do mundo. Você já viu alguma vez uma sogra como a minha?  

— Ivory, não quero ser obstinada. Mas, você não viu a foto na revista de homens de negócios onde Ilán aparece? Parece que não são os mesmos...  

— Amelie, pare de desconfiar! Isso é ridículo o que você insinua —proteste, embora tivesse visto a cor dos olhos diferentes; ele disse que era o reflexo da luz. — Vou me casar com o homem dos meus sonhos. Meu príncipe encantado.  

— Não há pior cego do que aquele que não quer ver —murmurou para que eu não a ouvisse.

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