Porto Alegre respirava primavera. As ruas se enchiam de cores, os ipês floresciam com leveza, mas o clima dentro do pequeno apartamento de Luana e Rafael era tudo, menos leve.
As tensões acumuladas pareciam ganhar calor com a nova estação. Rafael estava cada vez mais irascível. Seus cuidados, antes discretos, haviam se tornado comandos. Evite sair tarde. Evite certas companhias. Pense no futuro. Evite. Evite. Evite. Cada palavra carregava uma cobrança disfarçada de preocupação.
— Isso tudo parece bonito agora — ele dizia, encostado no batente da porta enquanto ela saía com a mochila nos ombros — mas até quando isso vai te sustentar?
Luana não respondia. Aprendera que discutir era como tentar atravessar um labirinto com os olhos vendados. Às vezes, porém, as palavras escapavam como fogo.
— E até quando tu vai viver como se ainda tivesse que cuidar de mim? Eu cresci, Rafael.
O silêncio após essas palavras doía mais do que qualquer resposta. Ele desviava o olhar. Ela batia a porta.