O gravador ainda estava em cima da mesa de Brandão, ao lado de um café frio e de um relatório extenso com o nome artístico “Lucky Valley” rabiscado dezenas de vezes nas margens. A sala estava escura, apenas iluminada pela lâmpada amarelada do canto. Brandão revia, pela quinta vez, o áudio da conversa entre Helena e Lucas, gravado clandestinamente, como forma de proteção.
Ele não falava. Só ouvia.
A confissão estava lá, sutil, quebrada, mas real. O homem que passara meses orbitando a vida de Helena havia se revelado. Não como um monstro direto — mas como alguém fragmentado, perigosamente humano. E isso tornava tudo ainda mais difícil.
— Ele não vai fugir — disse Helena, do outro lado da sala, com os braços cruzados, olhando pela janela da delegacia. — Não da maneira que a gente pensa.
Brandão girou lentamente a cadeira, observando-a com cautela.
— Você fala como se o conhecesse melhor do que qualquer um.
— Eu conheço — ela respondeu. — E é por isso que tenho medo.
O silêncio entre os d