Voltei para casa com a carta dobrada dentro da bolsa.
Cada passo doeu um pouco. Não o corpo — a alma. Como se, a cada quarteirão, eu estivesse me afastando de alguma coisa que não sabia se queria deixar pra trás… ou pra sempre.
Marco ainda não tinha voltado. O apartamento estava em silêncio. A luz do dia entrava pela janela da sala e tocava os móveis com um tipo de ternura que me desmontou.
Larguei a bolsa no sofá, tirei os tênis, e fiquei ali, de pé, no meio do nada.
A carta.
O envelope com dinheiro.
O cheiro da casa da mamma ainda preso nas minhas roupas.
Sentei no chão. Como uma criança perdida.
Passei os dedos pelos joelhos, tentando me ancorar no presente, mas minha mente só voltava para ele.
Salvatore.
A forma como ele me viu, mesmo à distância.
A maneira como escreveu "nossa casa", "nossa cama", como se não houvesse dúvidas, só saudade.
Como ofereceu o que ninguém nunca me ofereceu: mudança. Espaço. Aceitação.
Aceitar Marco.
Aceitar Serena.
Aceitar… quem eu sou, depois de t