Ponto de vista: Mara
Era difícil explicar o que se passava dentro de mim.
Difícil até colocar em palavras.
Ultimamente, parecia que eu não me reconhecia mais. Como se tivesse algo crescendo dentro de mim, um peso que eu não sabia de onde vinha. Minhas emoções estavam à flor da pele. Ora eu queria gritar, ora chorar, ora simplesmente me perder nos braços dos gêmeos como se ali estivesse a única resposta para o vazio que me consumia.
Me olhava no espelho e não enxergava apenas a garota que tinha sido levada à força de sua vida comum no Brasil. Via algo diferente no reflexo. O olhar mais intenso. A pele que parecia vibrar com energia própria. O corpo que se curava rápido demais, sem deixar cicatriz alguma.
E isso me assustava.
Então eu passava a maior parte do tempo trancada no quarto. Ali, pelo menos, podia fingir que ainda tinha algum controle. Ficava deitada na cama, olhando para o teto, ouvindo os sons distantes da alcateia, como se fosse uma estranha vivendo num lugar que não era s