— Se vocês usaram camisinhas, como que você ficou grávida então? Porque todo mundo sabe que o menino Jesus já nasceu!

Ri das gracinhas de Kaitlyn. Por mais que tenha chorado muito ao ponto de gastar duas caixas de lenços, agora, graças a minha amiga, me sinto um pouco mais tranquila.

— Eu não sei Kat, às vezes ele pegou as camisinhas mas não as usou.

— Isso não faz sentido, Mandi! — Ela protestou. — Ele deixou bem claro no outro dia que não queria nenhuma ligação com você.

Por mais que seja verdade, ouvi essas palavras saírem de sua boca e tomarem forma, me deixou desconfortável.

— É, mas agora não há muito o que fazer — falei foleando a lista telefônica que Kat trouxe.

Depois de vinte minutos, joguei de lado a lista e falei com os olhos marejados:

— Nenhum John Carter.

Uma lágrima escorreu por meu rosto, mas logo tratei de seca-la com as costa da mão.

Malditos hormônios!

— Ei, não precisa chorar. A gente vai dar um jeito! — Ela tenta me acalmar. — O nome é a única coisa que você lembra sobre ele?

Eu lembrava de muitas coisas. Lembrava do sorriso safado, do olhar de luxuria, da pressão de suas mãos na minha bunda... Mas claro que não falei isso para Kat, e tentei me concentrar de verdade.

Foi então que lembrei da pulseira vip neon, e enquanto ia busca a minha bolsa, pedi a Deus que não tenha deixado eu j**a-la fora.

Para meu alívio, ela estava lá, junto ao um número de telefone marcado em tinta preta.

Entreguei a pulseira a Kat.

— Tenho o número dele!

— Agora que você fala? Sério Amanda? Eu já estava aqui pensando como a gente ia fazer para criar essa criança sozinhas. Eu ganho mal e você ainda está pagando o apartamento! Eu ia ter que rodar bolsinha para pagar o enxoval. E o plano de saúde? Deus! — Ela arregala os olhos. — Eu teria que dá o c...

Dei risada.

Por mais que ela tenha usado um tom de repreensão, não pude deixar de ficar emocionada com sua fala. Kat pretendia mesmo me ajudar a cuidar do bebê, independente se eu achasse o pai ou não.

— Ninguém vai ter que dar nada. — Tranquilizei. — Afinal, eu não fiz um filho com o dedo!

— Acho que John usou ele também — minha amiga zombou.

— Kaitlyn!

Ela da risada.

— Desculpe. Mas o que você vai fazer? — Kat balançou a pulseira para mim.

Peguei ela se sua mão e rapidamente disquei o número.

No segundo toque ouço a voz de John do outro lado da linha:

— Carter.

— Eu... An...

Antes que pudesse falar qualquer frase que tivesse o mínimo de sentido, Kat pega o smartphone da minha mão e desliga a chamada.

— O que? Kaitlyn!

— O que você ia falar? "Olá senhor bonitão, aqui é aquela garota que zombou do seu nome e tomou meia garrafa de vinho na sua casa! Queria te dizer que apesar da gente usar algumas camisinhas eu estou grávida, e tenho certeza que o bebê é seu!" ??? — Falou ela, fingindo está falando com alguém no celular.

Apesar de tudo, mais uma vez ela estava certa.

Kaitlyn me encarou e dei uma risadinha.

— Carter — falei imitando John.

Kat deu risada.

— Fala sério, quem atende o celular assim?

— Ele atende — falei. — Mas então, o que vamos fazer?

Kaitlyn deu de ombros e soltou um sorriso conspiratório.

— Eu tenho um amigo policial.

→★←

— Algo mais? — Observo Kat falando ao telefone em uma chamada com seu amigo policial, enquanto faz anotações em um papel. — Ok. Obrigada Hunter! Estou te devendo uma! Passa lá em casa um dia desses... Tá bom. Beijo!

Ela desliga a chamada.

— Passa lá em casa um dia desses... — Falo pegando no seu pé e imitando sua vozinha.

Kat revira os olhos e me mostra o dedo do meio.

— Aqui está — me entrega a folha. — John Carter, CEO de uma multinacional com empreendimentos na área da aviação, solteiro, reservado e mais algumas informações como o endereço de dois apartamentos e o número da secretaria dele.

Pisquei, chocada com tantas informações que Kat conseguiu somente através do número de celular cadastrado no nome de John.

— O cara tem a bala!

— Kaitlyn, que gíria horrível! — Repreendo.

— Tá bom, mamãe — ela ri. — Mas o que eu quero dizer é que ele tem dinheiro. Vai dizer que você quer dar o golpe da barriga.

— Foda-se, eu não ligo!

— Então, se você pode lidar com isso...

Minha amiga pegou a folha de volta e discou um número.

— O que você vai fazer?

— Shiu!

Depois de alguns toques, uma voz bem feminina atende:

— Carter Interprise, escritório do Senhor John Carter, no que posso ajudar?

— Bom tarde, aqui é a secretária da Senhora Ferrer, estou ligado apenas para confirmar a reunião de amanhã, as treze horas.

Coloco a mão sobre os lábios, chocada com a formalidade nas palavras de Kat e no que ela estava fazendo.

Minha amiga sorri para mim, diabólica.

Houve um silêncio preenchido apenas pelo farfalhar de folhas de papel na ligação.

— Perdão, mas não tem nenhuma reunião com a Senhora Ferrer na agenda do senhor Carter.

— Mas é muita incompetência mesmo! Qual o seu nome? — Kat pergunta com a voz brava para a coitada da secretaria.

Quase sinto dó dela.

— E-Elisa.

— Bom Elisa. Você quer que eu fale para a Senhora Amanda Ferrer que ela pegou um voo de doze horas de Pequim até Seattle para não ter uma reunião importantíssimo com o senhor Carter?

— E-eu... Me desculpe mas...

— Devo ligar para o número pessoal de John e relatar a sua incompetência?

Arregalei os olhos segurando uma risada. Eu definitivamente estava com dó da pobre secretaria.

— Perdão! Sou nova na empresa. A antiga secretária deve ter esquecido de anotar a reunião — ouço a voz da moça transmitir seu nervosismo através da linha. — Vou fazer um encaixe! — Ela se adianta a dizer quando Kat solta um estalo com a língua. — Amanhã, as treze e quinze. Pode ser?

Kaitlyn pisca um olho pra mim que estou em total choque, quase deixando a boca cair.

— Vou avisar a Senhora Ferrer sobre a mudança no horário. Obrigada Elisa. E, não se esqueça de anotar na agenda dessa vez.

Kaitlyn desliga a ligação sem esperar por uma resposta e cai na gargalhada.

— Você é louca! — Falo rindo.

— Depois você me agardesce! Agora escuta bem o que você vai fazer...

→★←

Encaro o grande prédio iponente a minha frente. O letreiro escrito Carter Interprise Home brilha em meio aos tons de cinza do prédio devido a mais um dia nublado em Seattle.

Sinto o impulso de querer voltar para trás e cuidar de meu bebe sozinha, mas eu mais do que ninguém sabia como era crescer sem um pai, e se tivesse que encarar o babaca do genitor e exigir que fosse um pai presente para isso, assim o faria.

Varri meu orgulho para dentro do meu subconciênte e pedi para que ficasse lá, por hora.

Caminho a passos seguros e confiantes até a recepcionista, no hall de entrada do prédio. Meus saltos ecoando no chão de marmore brilhante. Sei que sou observada, me vesti para isso. Kat se certificou para que parecesse de fato uma executiva preste a ter uma reunião com um CEO. Havia até mesmo me emprestado um vestido que comprou certa vez para uma viagem com seu chefe, a trabalho, usando o cartão da empresa. Um vestido elegante de duas cores, decote transpassado e da cor creme, enquanto a saia descia justa a meu corpo, com uma fenda na perna, da cor preta.

Meus cabelos deixei soltos pois sempre gostei da atenção que meus longos fios pretos chamavam. Maquiagem leve e atemporal, jóias que não passavam de bijuterias mas pareciam verdadeiras, nas mãos nada mais que uma pasta preta.

Pronta para uma reunião que mudaria a minha vida.

A recepcionista sorri, simpática, quando me aproximo.

— Boa tarde, Senhora. No que posso ser útil hoje? — Ela pergunta, tão formal que por um instante esqueci meu papel.

Calma Amanda!

— Tenho uma reunião marcada com o Senhor Carter. — Falo no automático. E só então percebo que nem respondi o "boa tarde" da moça.

Se reparou ou ficou chateada, ela não demonstrou. Por um tempo, somente checou seu computador.

— Senhora Ferrer? — Perguntou abrindo uma gaveta atrás de seu balcão.

— Sim — confirmo, sentindo alívio. 

Até então, o plano de Kat estava dando certo.

— Aqui está — Ela me entregou um crachá escrito "VISITANTE - EXECUTIVO(A)" na frente. — Use-o para passar na catraca e entrar no elevador. Vigésimo primeiro andar, cobertura — ela me dá as instruções. — O senhor Carter a aguarda.

— Obrigada!    

Quando chego ao vigésimo primeiro andar, sou recepcionada pela secretária de John que presumo ser a tal Elisa.

Ela me oferece algo para beber, quando nego por fim todas as suas cortesias, Elisa me informa que posso esperar dentro do escritório de John, que ele já deveria estar chegando.

Agora estou sentada em um sofá confortável e sofisticado que fica à frente de sua mesa. Encaro as paredes de vidro que dão uma bela vista da cidade de Seattle, apesar do dia nublado.

Aos poucos, sinto meus batimentos normalizarem.

Quando escuto a voz grave de John passando instruções a sua secretária, sei que a hora do verdadeiro show chegou.