Entro no gabinete do meu pai como quem entra num campo de batalha.
Ele está sentado à frente da grande mesa de madeira maciça, cercado por papéis, pastas, jornais.
A televisão ao fundo exibe uma coletiva política — mais uma, como se o mundo girasse em torno da imagem dele.
Ele não levanta os olhos quando entro.
Mas sei que me espera.
Sempre espera, como um general que calcula até o último passo do inimigo.
— Sentar ou vai ficar em pé mesmo? — ele pergunta, sem largar a caneta.
— Prefiro manter distância — respondo. — É mais seguro assim.
Ele ergue o olhar, frio como sempre.
As sobrancelhas levemente erguidas.
Finge surpresa, mas é só teatro.
— Achei que já tivesse aceitado a realidade.
— Qual realidade? A em que você decide com quem eu vou casar pra garantir uma aliança política?
— Exatamente essa — ele confirma, com naturalidade repulsiva. — A aliança com os Ferraz é sólida. A filha deles é bonita, bem-educada, discreta. A esposa perfeita para um futuro deputado.
Dou um