Aquela noite não foi exatamente uma noite. Foi um labirinto.
Matt dormia ao meu lado com a respiração calma, profunda, como se o mundo inteiro estivesse em ordem. Eu, não. Eu revivia a vida como quem passa o filme em câmera quebrada, pulando cenas, misturando vozes, trocando rostos. Minha mãe sendo dura e frágil na mesma proporção. Eu esperando na janela. Eu esperando na porta. Eu fingindo que não esperava mais.
Os vizinhos. De repente, eles faziam sentido. As visitas estranhas demais para serem só curiosidade. As sacolas de comida deixadas discretamente na minha porta. Os conselhos que pareciam simples, mas não eram. Tudo aquilo agora tinha o peso de alguém tentando cuidar de mim pelas beiradas, enquanto minha mãe se definhava longe, presa, perdida, quebrada.
Doía diferente agora. Não era o abandono. Era o desencontro.
Eu dormi pouco, mas dormi. E acordei com o som mais vivo que aquela casa possuía: Cori correndo pelo corredor, rindo, falando com Helena como se o mundo tive