O tempo dentro daquele restaurante parecia trabalhar contra mim. Ou a favor. Nunca sei definir quando a vida resolve ficar bonita demais por alguns minutos. A gente ficou ali depois da sobremesa — um creme brûlée que eu mal senti o gosto porque estava ocupada demais assistindo Matt sorrir — escutando o pianista tocar uma melodia lenta, suave, quase transparente. Um daqueles sons que parece que entra pela pele e não pelo ouvido.
O ambiente tinha ficado mais silencioso, mais íntimo, como se o mundo tivesse decidido cochichar por respeito ao clima entre nós dois. Eu observei o movimento ao redor por alguns segundos, a luz amarela, os arranjos de mesa que balançavam levemente quando alguém passava, o barulho discreto dos talheres. E, ainda assim, a única coisa que parecia realmente existir naquele espaço era a mão de Matt, repousada perto da minha, esperando que eu tocasse de novo.
Quando olhei o relógio, levei um susto. Quase meia-noite? O tempo tinha corrido como se estivesse fugi