A noite parecia se estender ao infinito enquanto eu entrava no carro de Russ. Ele abriu a porta do passageiro sem dizer nada, apenas com aquele olhar que sempre me desarmava, como se estivesse lendo cada camada da minha resistência. Entrei, tentando não transparecer o quanto minhas mãos tremiam.
O silêncio se instalou no interior do carro assim que ele deu partida. As ruas passavam rápido pelas janelas, as luzes da cidade se misturando em borrões dourados e vermelhos. E foi nesse instante que percebi uma versão diferente dele.
Sem motorista, Russ parecia outro homem. A mão firme no volante, o olhar concentrado na estrada, a postura relaxada, mas cheia de uma confiança quase cruel. Ele parecia mais humano, mais real — e, paradoxalmente, ainda mais inatingível. Era estranho como até os gestos mais simples dele conseguiam me afetar. A maneira como girava o volante, como mudava de marcha com precisão, até o jeito como os músculos do braço se moviam por baixo da camisa ajustada. Tudo