O vento da noite cortava Londres como uma lâmina afiada. As ruas, úmidas da recente chuva, refletiam a luz pálida dos lampiões. Beatrice, acompanhada apenas de sua dama de companhia, regressava da casa de uma vizinha, quando a carruagem em que estava freou abruptamente. O estalo dos cavalos, seguido do grito abafado do cocheiro, foi o último som que a jovem ouviu antes de mãos ásperas a arrancarem do assento acolchoado.
Um pano encharcado de cheiro ácido encostou-lhe ao rosto. A visão escureceu.
Beatrice despertou em um quarto sombrio, iluminado por uma única vela trêmula sobre a mesa. As paredes eram de madeira úmida, o teto baixo denunciava uma construção abandonada. Um frio repentino lhe percorreu a espinha quando reconheceu a silhueta diante de si.
Nathaniel Ashworth.
Mas não era o mesmo lorde elegante que lhe sorrira no baile. Diante dela estava um homem devastado. As roupas, amarrotadas e sujas de lama; os cabelos, desalinhados; os olhos, cheios de febre e rancor.
— Então a senh