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Capítulo IV – Uma proposta indecente (e ridícula)

O Marquês de Hensley não era homem de desistir fácil — mas, para ser justo, também não era homem de fazer as coisas de modo convencional. Após a visita frustrada e deliciosamente torturante à senhorita Fairweather, ele passou a noite em claro, planeando seu próximo passo com a obstinação típica dos homens que estão acostumados a conseguir tudo o que querem — ou pelo menos quase tudo.

Na manhã seguinte, quando o sol ainda hesitava em invadir as janelas da mansão Lancaster, ele convocou seu mordomo, Harris, para uma conversa decisiva.

— Harris, a vida está me pregando uma peça. É oficial: preciso de uma esposa. — Ele falou como se anunciasse que o chá havia acabado.

— Sua excelência está falando sério? — O mordomo arqueou as sobrancelhas, tentando ocultar a surpresa. — O senhor, senhor das festas, do escândalo e do riso fácil, precisa de casamento?

— Exatamente. Preciso. E rápido. O tio Reginald ameaçou me deserdar caso eu não coloque um anel no dedo antes da próxima temporada.

— O senhor tem alguém em mente?

— Não um "alguém", Harris. Tenho a "única". — E o marquês sorriu, mais convencido do que nunca.

Harris suspirou. Conhecia bem o gosto do patrão por complicações. Sabia também que Beatrice Fairweather era o tipo de mulher que não se rendia nem sob a ameaça de um dragão — muito menos sob o charme dele.

Enquanto isso, na casa da tia-avó, Beatrice tentava, em vão, se concentrar em seu livro. Mas as flores silvestres que o marquês deixara na lareira ainda perfumavam o ambiente, e sua mente teimava em voltar àquela visita inesperada.

— Preciso me preparar para o baile da próxima semana — pensou em voz alta, enquanto penteava o cabelo com certa impaciência. — E mais importante: preciso esquecer esse tal de Hensley.

Foi então que, na manhã seguinte, um criado chegou à porta, carregando um envelope com o brasão do Marquês.

— Senhorita Fairweather, uma correspondência urgente — anunciou ele, entregando o envelope com cuidado.

Beatrice abriu o selo com uma mistura de curiosidade e irritação. Dentro, uma carta que começava assim:

"Senhorita Fairweather,

Após cuidadosa consideração — e algumas noites mal dormidas —, cheguei a uma conclusão. Preciso casar. E preciso que seja com a senhora.

Antes que reclame, ouça a proposta.

Um casamento por conveniência, regido por cláusulas tão ridículas que seriam engraçadas se não fossem reais.

Convido-a a uma conversa para que eu possa expor as condições.

Atenciosamente,

Oliver Roderic Llewellyn Lancaster, Marquês de Hensley."

Beatrice franziu o cenho, contendo um sorriso.

— Casamento por conveniência... com cláusulas ridículas? — murmurou. — Isso só pode ser um convite para um baile de escândalos.

No salão de visitas da mansão Lancaster, algumas horas depois, Beatrice e o Marquês se encontraram cara a cara — ela com um vestido simples, porém elegante; ele com o habitual colete azul-acinzentado, que até então parecia mais confortável.

— Muito bem, milorde, fale — disse Beatrice, com o braço apoiado no encosto da cadeira e um olhar que misturava ceticismo e divertimento. — Quero ouvir essas cláusulas absurdas.

O marquês sorriu com aquela confiança que só um homem que já seduzira metade da sociedade poderia ter.

— Pois bem. Clause número um: nosso casamento será puramente civil, sem nenhum laço de afeto — pelo menos até segunda ordem.

— Até segunda ordem? — replicou Beatrice, franzindo as sobrancelhas.

— Sim. A ideia é que mantenhamos aparências para a sociedade e evitemos escândalos. Clause número dois: eu não prometo fidelidade exclusiva. Afinal, senhorita, sabe bem como as coisas funcionam entre nobres.

Beatrice soltou uma risada irônica.

— Ah, claro. O matrimônio é uma espécie de clube exclusivo para amantes múltiplos. Anotado.

— Clause número três: nenhuma das partes deverá interferir nas paixões ou hobbies do outro.

— Quer dizer que posso continuar a devorar livros e sonhar com minha livraria? — perguntou Beatrice, já se imaginando gritando um "sim" por dentro.

— Exatamente. E eu... bem, vou continuar a ser o libertino que o mundo conhece e teme.

— E o que há de ridículo nisso? — perguntou Beatrice, encarando-o.

— A melhor parte está chegando. Clause número quatro: a senhora terá direito a um quarto separado — e ao direito de trancar a porta para me impedir de entrar, caso eu resolva trazer uma daquelas festas infames para casa.

Beatrice quase engasgou.

— Isso não é ridículo. É brilhante!

— Concordo. E clause número cinco — a mais importante — se em algum momento um dos dois desejar cancelar esse contrato, o outro não terá direito a objeção.

Beatrice ficou em silêncio por alguns segundos. Estava chocada, não pelo teor da proposta, mas porque aquele tipo de sinceridade brutal a surpreendia — e, de algum modo, a intrigava.

— Sua excelência, devo dizer que esta é a proposta mais... extravagante e indecente que recebi até hoje.

Ele inclinou a cabeça, satisfeito.

— E eu digo que é a única que me faria pedir sua mão, Beatrice.

Ela respirou fundo.

— Preciso pensar.

— Claro. Mas aviso que o prazo é curto — disse ele, levantando-se para fazer uma reverência que beirava a comédia. — A próxima temporada começa em um mês, e o tio Reginald está com o dedo coçando para cortar minhas mesadas.

Beatrice sorriu, segurando a carta com firmeza.

— Muito bem, milorde. Aceito... pensar com cuidado.

Quando saiu da mansão, Beatrice sentiu que uma nova aventura começava — uma que ela não escolhera, mas que, misteriosamente, parecia menos terrível do que imaginara.

O Marquês de Hensley, por sua vez, voltou para seu escritório com um brilho nos olhos que ninguém havia visto antes — não o brilho do libertino incorrigível, mas o brilho daquele que descobriu um desafio à altura.

E assim, entre cláusulas ridículas e promessas silenciosas, o jogo continuava. Porque, no fundo, ambos sabiam: na guerra dos corações, a derrota não é uma opção — mas o caminho para a vitória pode ser tão imprevisível quanto o próprio amor.

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