Lady Penelope Windmere era o tipo de mulher que nunca dizia o que pensava — e, por isso mesmo, pensava as piores coisas.
Todas as terças-feiras, em sua casa com aroma permanente de lavanda e biscoitos ligeiramente queimados, acontecia o temido "Encontro das Senhoritas Dignas". Era um evento dedicado ao chá, ao bordado e à disseminação sistemática de boatos — a verdadeira arte da aristocracia inglesa. Beatrice Fairweather odiava cada minuto daquilo. Sentada entre duas jovens que falavam exclusivamente sobre o novo corte de cabelo do duque de Norfolk (que, segundo rumores, agora ostentava costeletas mais grossas que sua moral), Beatrice bordava qualquer coisa que pudesse passar por "aceitável". Ela suspeitava que o que fazia parecia mais um ninho de pássaro do que uma flor, mas quem se importava? Ninguém ali olhava para os tecidos — estavam todas ocupadas espionando umas às outras sob o véu da falsa cordialidade. — Ouvi dizer que o senhor Browning pediu a senhorita Lottie em casamento — sussurrou Lady Clarabelle com a empolgação de quem acabara de descobrir uma traição internacional. — E ela aceitou! — confirmou outra, com um suspiro — apesar daquele problema terrível com os pés dele. — Pé chato? — Não. Pé mal cheiroso. Beatrice fingia ouvir, mas sua mente vagava longe — mais especificamente, entre as páginas do bilhete do Marquês de Hensley, que ela lera e relera ao menos uma dúzia de vezes desde o dia anterior. Não que ela estivesse intrigada, é claro. Apenas... irritada. Quem ele pensava que era para escrever uma carta tão insolente? "Aguardando sua recusa com grande expectativa"? Era como se ele tivesse transformado a rejeição em um esporte — e ela, sem querer, se tornara sua nova partida. — Senhorita Fairweather — chamou Lady Penelope, servindo chá com o sorriso forçado de uma anfitriã entediada. — O que pensa da conduta de um cavalheiro que se gaba em público por ter sido expulso do clube White's? Beatrice ergueu os olhos com calma. — Penso que ou ele é um completo idiota... ou um gênio que descobriu a melhor maneira de evitar velhos enfadonhos e partidas de xadrez eternas. Charlotte, sentada ao seu lado, engasgou com o chá. — Ah, querida Beatrice — disse Lady Penelope, disfarçando o choque com um gole refinado. — Sempre tão... singular. — Obrigada, Lady Penelope. Tento me manter fiel a esse dom natural. Antes que mais escândalos escapassem de seus lábios, uma nova onda de sussurros invadiu o salão. Todas as cabeças se viraram discretamente para a porta de entrada. Alguém havia chegado tarde — e esse alguém não era qualquer um. — É o primo de Lady Marigold... — cochichou uma dama. — O conde de Ashbury. — Não! Não ouviu? É o próprio Marquês de Hensley! — O libertino? — O encantador! Beatrice travou os dentes. Claro. Por que não? Que prazer teria o universo se não fosse lhe pregar peças tão previsíveis quanto inconvenientes? Quando a porta se abriu, a luz da tarde invadiu o salão, e ele apareceu. Ele. O Marquês de Hensley, em pessoa. Alto, com ombros largos, um sorriso preguiçoso e a confiança de quem sabia que todas as mulheres do salão estavam tentando não babar na porcelana. Usava um casaco azul-marinho com detalhes dourados, e as calças, bem... eram realmente mais ajustadas do que o necessário. Como Charlotte havia alertado. Ele caminhou como quem tinha tempo e intenções questionáveis. — Perdoem minha invasão, senhoras — disse com uma reverência perfeitamente ensaiada. — Ouvi dizer que aqui se reúnem as mulheres mais formidáveis de Londres. Vim apenas confirmar o boato com meus próprios olhos. Lady Penelope quase derramou o bule no colo. — Lorde Hensley, que honra inesperada... — Ela se levantou num pulo. — Por favor, aceite uma xícara de chá. Ou uma de nossas almofadas bordadas. Ou minha sobrinha. Beatrice, ainda sentada, cruzou as pernas com elegância e observou a cena com uma sobrancelha arqueada. Ele também a viu. É claro que viu. Os olhos dele encontraram os dela com precisão cirúrgica — e o sorriso aumentou. — Senhorita Fairweather, presumo? Ela não respondeu. Apenas ergueu o bordado (que agora parecia uma mistura entre uma couve e um corvo abatido) e fingiu examiná-lo. — Sou um grande admirador de sua fama — continuou ele, agora mais próximo. — Recusar cinco pretendentes é um feito notável. Gostaria de saber se o próximo terá melhor sorte. Beatrice respirou fundo. — Se estiver se referindo a si mesmo, milorde, receio que esteja a caminho de se tornar o sexto. Algumas senhoras sufocaram um riso. Outras arregalaram os olhos. Lady Penelope deixou cair uma colher. O marquês inclinou a cabeça, encantado. — Que sorte a minha. Gosto de desafios. Charlotte murmurou algo que soou como "isso vai ser interessante", antes de afundar na almofada ao seu lado. Beatrice olhou para o marquês, e, pela primeira vez, algo em seu peito se apertou. Não era exatamente ódio. Mas também não era simpatia. Era... irritação curiosa. Um perigo. Um convite. E ela nunca aceitava convites. — Então espero que goste de perder — disse ela, calmamente, levantando-se com a graciosidade de uma dama que sabia o efeito que causava. E saiu da sala antes que ele pudesse responder — ou pior, encantá-la com aquele sorriso de insolente profissional. O salão ficou em silêncio por um segundo, até que Lady Penelope murmurou, impressionada: — Ela saiu... antes dele. Charlotte sorriu. — E ele a deixou ir. Acho que ele está perdido. O Marquês de Hensley, parado junto à janela, observava a porta por onde Beatrice desaparecera. Depois de um instante, ele deu um leve sorriso e falou mais para si do que para os outros: — Perdidamente interessado, talvez.