Em que a senhorita Fairweather recusa sua quinta proposta de casamento — e acidentalmente destrói uma samambaia.
Londres, abril de 1811 Beatrice Fairweather estava entediada. Era a terceira terça-feira do mês, o que significava que Lady Penelope organizava sua infame "Tarde das Senhoritas Dignas" — uma reunião absurdamente enfadonha, onde damas da sociedade competiam para ver quem bordava mais flores por polegada quadrada de tecido. A única coisa que Beatrice bordava, porém, era paciência. — Senhorita Fairweather, diga-nos... — Lady Penelope interrompeu o silêncio com sua voz aguda. — O que pensa sobre as vantagens do casamento precoce? Beatrice ergueu os olhos de seu bordado desastroso — que, com um pouco de boa vontade, poderia ser confundido com um pato deformado — e sorriu com toda a elegância de que era capaz. — Acho que o casamento precoce deve ser evitado com a mesma prudência com que evitamos leite talhado. Ambos causam náusea, minha senhora. Um silêncio escandalizado caiu sobre a sala, seguido de um pequeno engasgo vindo da senhorita Margareth, que tentou disfarçar com um gole de chá. — Senhorita Fairweather...! — Lady Penelope ficou lívida. — Perdão, minha língua escapuliu. Acontece com frequência — respondeu Beatrice, dando um gole em sua xícara. — Especialmente quando me perguntam tolices. Era verdade que Beatrice possuía língua afiada e pouco talento para contenção verbal. Também era verdade que recusara quatro propostas de casamento — duas delas muito vantajosas, segundo sua mãe — e que sua reputação como "difícil" já circulava em mais salões do que ela mesma. Mas a quinta proposta... ah, essa seria inesquecível. Naquela mesma tarde, ao retornar à propriedade de sua tia-avó, onde estava hospedada durante a temporada social, Beatrice deu de cara com um buquê de rosas absurdamente vermelhas e um bilhete preso com um laço dourado. "Senhorita Fairweather, Sua beleza eclipsa até mesmo as tulipas do jardim de minha mãe. Aceitaria a honra de se tornar minha esposa? Atenciosamente, Algernon Dobbins, Barão de Westgate." Beatrice piscou. Depois leu novamente. Depois ergueu o olhar para a criada que aguardava sua resposta. — Ele me comparou a uma tulipa? — Sim, senhorita — disse a criada, tentando não rir. Beatrice suspirou e, com um gesto delicado, enfiou o bilhete dentro da samambaia do hall de entrada, onde ele ficou preso com perfeita ironia. — Diga ao barão que... embora honrada, preciso recusar. Diga também que prefiro ser comparada a algo mais resistente. Como uma pedra. Ou uma mula. Naquela noite, a história da quinta recusa de Beatrice já corria entre os salões, bailes e becos. Alguns a chamavam de insuportável. Outros, de imprestável. Um cavalheiro comentou que ela devia ter sido criada por lobos. Mas o que ninguém imaginava é que havia um certo homem — de reputação duvidosa, riso fácil e intenções questionáveis — que acabara de escutar sobre Beatrice Fairweather pela primeira vez... e ficara muito interessado. E é claro que esse homem teria de ser justamente o mais impossível de todos. Em que a senhorita Fairweather recusa sua quinta proposta de casamento — e acidentalmente destrói uma samambaia. — Se continuar recusando cavalheiros desse jeito, logo dirão que é feita de pedra — murmurou sua prima Charlotte, observando o bilhete meio amassado enfiado entre as folhas da samambaia. — Pois que digam — disse Beatrice, girando no calcanhar e se dirigindo à sala de leitura. — Pedras não se casam por obrigação. Charlotte correu atrás, segurando as saias do vestido. — Mas Algernon é gentil! E tem o queixo avantajado de um nobre! — O queixo dele chega no salão antes do próprio corpo. Além disso, ele escreveu "tulipas" com dois "L's". Charlotte, eu seria infeliz e envergonhada. Não há chá que cure isso. Charlotte, que não era conhecida por ser rápida com argumentos (nem com agulhas de costura), suspirou com pesar e desistiu. Beatrice, por sua vez, afundou-se em sua poltrona preferida, pegou um livro e, como de costume, abriu-o no meio — porque o começo raramente era interessante. Foi nesse exato momento que o destino, entediado como ela, decidiu se entreter às custas da senhorita Fairweather. — Lady Houghton! — anunciou o mordomo na porta. — Um mensageiro chegou. Diz estar a serviço do... Marquês de Hensley. A senhora Houghton, tia-avó de Beatrice, largou seu bordado (uma almofada em formato de pato, por coincidência) e levantou-se com a mesma graça de uma jarra de cerâmica. — O marquês? Ora, ora... isso é raro. Ele nunca aparece nesta parte respeitável de Londres. — Quem é o Marquês de Hensley? — perguntou Beatrice, franzindo o cenho. Charlotte respondeu com um brilho nos olhos. — Apenas o mais charmoso libertino da temporada. Dizem que já foi expulso de três clubes por rir alto demais e seduzir noivas alheias. E também por usar calças muito apertadas. Beatrice ergueu uma sobrancelha. — Sedutor, barulhento e com gosto duvidoso em vestuário? Perfeito. Já posso detestá-lo sem conhecê-lo. O tal mensageiro entrou, entregando um envelope com um brasão dourado. A senhorita Fairweather o pegou, relutante, e rompeu o lacre com cuidado. Dentro, um bilhete escrito com letra inclinada e uma caligrafia absurdamente confiante: "Senhorita Fairweather, Informaram-me que a senhorita é uma especialista em recusar homens de bom nome e posição. Estou curioso para saber o que fará com um homem como eu. Aguardando sua recusa com grande expectativa, Hensley." Beatrice leu três vezes. Depois levantou-se da poltrona com um olhar fulminante. — Quem, em nome de todas as samambaias que destruí, é esse homem? Charlotte, sorrindo, respondeu: — O próximo problema da sua vida. E, embora Beatrice não soubesse, Charlotte estava absolutamente certa.