Aurora
O cheiro de queimado foi a primeira coisa que senti ao sair do quarto.
Espreguicei-me lentamente, os músculos doloridos depois da noite inquieta. Estava ainda de camisola, os pés descalços deslizando sobre o assoalho frio enquanto eu seguia o aroma suspeito.
Na cozinha, Giovanni estava uma visão.
Uma visão desastrosa.
Ele se inclinava sobre o fogão, segurando uma frigideira como se fosse uma arma prestes a explodir, enquanto uma fina fumaça cinza subia lentamente, preenchendo o ambiente.
— O que você está fazendo? — perguntei, cruzando os braços na porta, a voz rouca da manhã.
Ele virou o rosto para mim, exibindo uma expressão de pura concentração... misturada com um leve desespero.
— Café da manhã — respondeu com a maior naturalidade do mundo, como se o que estivesse produzindo fosse perfeitamente comestível.
Franzi o nariz, me aproximando para ver o conteúdo da frigideira.
Era — ou tinha sido — ovos.
Talvez.
Não era mais possível identificar com precisão.
— Isso deveria ser.