A estrada de volta parecia mais longa do que na ida. Talvez fosse o cansaço que pesava nos ombros, ou só o silêncio que tomou conta do caminhão depois que nos afastamos de Calver Creek.
June encostou a cabeça no vidro da janela, o olhar perdido em algum ponto fora do meu alcance. Deborah mantinha as duas mãos firmes no volante, mas os nós dos dedos estavam brancos de tensão. Eu segurava a flor amarela que a senhora me dera, apoiando-a no colo como se fosse a única coisa frágil o bastante pra caber no momento.
Ninguém falou por quase meia hora. Só o ronco do motor e o barulho das rodas engolindo os buracos marcavam o tempo. Quando June respirou fundo, quebrou o silêncio de um jeito que soou quase sagrado.
— Sabe o que eu pensei lá? — disse, sem desviar o olhar da estrada.
— O quê? — perguntei, num sussurro.
— Que a gente vive reclamando — respondeu. — Eu, principalmente. Mas tem gente que perdeu tudo. Tudo mesmo. E ainda assim… agradece.
Deborah soltou o ar devagar, como quem queria di