A tarde se estendeu num calor pesado, do tipo que grudava na pele e fazia o ar parecer mais denso. Quando saí do refeitório, precisei de alguns segundos pra me acostumar à claridade que refletia no cimento molhado de poças antigas.
June veio logo atrás, ajeitando a alça do colete no ombro, como se carregar peso tivesse se tornado um hábito tão natural quanto respirar. Quando cruzamos o pátio, vi Deborah sentada num caixote, com uma prancheta equilibrada nos joelhos e os olhos semicerrados, cansados.
— Tudo bem? — perguntei, parando a poucos passos.
Ela ergueu o rosto devagar. O jeito como me olhou — uma mistura de exaustão e ternura — me deu vontade de sentar ali e ficar quieta o resto do dia.
— Tudo bem — disse, embora soasse mais como um vai ficar. — Hoje chegaram três famílias novas. E a lista de amanhã só cresce.
— Quer que a gente ajude com o registro? — perguntou June, já se aproximando.
— Queria — confessou Deborah, soltando o ar como quem entrega o último resquício de orgulho.