Ele desviou o olhar primeiro. Como se precisasse recolher os próprios cacos antes que eu pudesse ver demais.
Ficamos em silêncio por longos segundos. O vento arrastava folhas secas pelo jardim, e por um instante, tudo ao redor pareceu congelar.
Então Kael voltou a falar. Com a voz mais firme, ainda que baixa:
— Amanhã… haverá um almoço no pavilhão norte. As damas da corte estarão presentes. Alguns cavalheiros também.
Meus olhos encontraram os dele. Ele não estava apenas informando. Era um convite disfarçado.
— Devo ir? — perguntei, testando os limites do que havia nas entrelinhas.
Ele hesitou. Só um pouco.
— É esperado.
Fez menção de se afastar, mas parou a meio caminho. Virou o rosto de leve, sem me encarar completamente.
— Observe. Ouça. Nem tudo é dito em voz alta por aqui.
Depois, se foi.
Fiquei ali, sozinha entre flores adormecidas e sombras densas. O sussurro não voltou, mas a sensação permaneceu. Como se algo estivesse à espreita — algo que o baile não mostrou, mas o almoço pod