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Capítulo 4 — A Vingança da Cafeteira

Isadora encarava a cafeteira como quem encara um inimigo ancestral. A máquina era enorme, brilhava mais do que deveria e tinha mais botões do que o necessário para um objeto que deveria apenas fazer café.

“Não deve ser tão difícil”, pensou, com otimismo ingênuo.

Colocou a cápsula, apertou o botão errado, depois o certo, depois um aleatório... e então a cafeteira começou a apitar. Alto. Repetidamente. Como se tivesse entrado em modo ataque.

— Shhh! — ela sussurrou, batendo de leve na lateral da máquina.

Nada. O apito ficou mais intenso. Começou a sair vapor. Ela puxou a cápsula, a água começou a vazar. Tentou estancar com um guardanapo, mas parecia que tinha aberto uma fenda para o inferno.

Foi nesse exato momento que a porta da sala de Lorenzo se abriu. Outra vez.

Ele apareceu, sem pressa, como quem já esperava o caos.

— Isso é um ataque ou um novo método de fazer café?

— Eu... eu juro que segui o manual — disse Isadora, com um guardanapo encharcado na mão e olhos arregalados.

Lorenzo cruzou o corredor até ela. Apertou dois botões, girou uma válvula e a cafeteira silenciou, como um dragão domado.

— Não é por cápsula. É automática. Essa alavanca aqui ativa o vapor para aquecer o leite. Você puxou sem o reservatório encaixado — explicou ele, com paciência quase cínica.

— Ah. Claro. Super lógico... pra um engenheiro da NASA — murmurou.

Ele olhou para ela. Por um segundo, seus olhos pareceram menos gélidos. Quase... divertidos?

— Tente não destruir mais nada hoje.

— Prometo que só vou destruir minha dignidade, chefe. O que sobrou dela.

Ele soltou um ruído baixo. Um quase riso. Quase.

Minutos depois, com café devidamente preparado e sem alarme de incêndio ativado, Isadora voltou ao trabalho. Respondia e-mails, organizava pautas, e revisava o release da campanha. Estava tão concentrada que nem percebeu o tempo passar.

Às 11h45, Lorenzo passou por ela e disse:

— Sala de reuniões em quinze minutos. Traga as minutas do jurídico e o cronograma de imprensa.

Ela assentiu, pegou os documentos, revisou tudo com a velocidade de quem tem um furacão prestes a passar e foi para a sala indicada.

A reunião foi tensa. Conselheiros exigentes, prazos apertados, metas inalcançáveis ditas como metas “conservadoras”. Mas Lorenzo era um estrategista frio, direto e impressionante. Respondia tudo com firmeza, domínio absoluto, e uma clareza que deixava todos sem réplica.

Isadora anotava freneticamente. Em determinado momento, um dos conselheiros — um senhor de cabelos brancos e voz irritante — fez uma piadinha sobre “a nova assistente ser decorativa”.

Ela travou.

Mas antes que pudesse responder, Lorenzo olhou direto para o homem e disse:

— A senhorita Mendes é extremamente eficiente. E essencial ao andamento do que foi entregue até agora. Se tiver alguma dúvida, posso enviar as atas e o material que ela organizou esta manhã.

Silêncio. O homem recuou. Isadora quase caiu da cadeira.

Quando a reunião terminou, ela agradeceu enquanto recolhia seus papéis.

— Obrigada por me defender lá dentro.

Lorenzo olhou para ela por um instante, depois respondeu, simplesmente:

— Eu não defendo incompetência. Só o que é justo.

E saiu, deixando-a com um misto de orgulho e confusão.

Ela voltou para a mesa e, pela primeira vez no dia, respirou aliviada. Ainda estava de pé. Ainda empregada. E, surpreendentemente, com uma pontinha de respeito no olhar gélido de Lorenzo Alcântara.

Mas o dia ainda não tinha acabado.

E ela ainda não sabia que, no dia seguinte, teria que acompanhá-lo a um evento de gala. À noite. Com salto. E... vestido longo.

Fim do expediente? Quase. Fim da paz? Com certeza não.

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