HARRY RADCLIFFE
O quarto do hotel estava silencioso demais, mesmo com a cidade respirando do outro lado das janelas amplas. A luz era cinzenta, arrastada, como o tipo de manhã que nunca se decide entre existir ou adiar-se por mais um tempo. Eu já estava vestido e já havia tomado o meu café, sabendo que demoraria até a hora da noiva chegar.
E ao contrário de Ruby, eu não tinha nenhum ritual matinal, e de certa forma, nenhum segundo perdido em frente ao espelho. O terno, feito sob medida, abraçava o meu corpo como se houvesse sido moldado a partir dos meus ossos. Azul tão escuro que quase era preto, lapelas austeras, abotoaduras que eu poderia mentir que pertenciam ao meu avô paterno, se eu o tivesse conhecido, é claro.
Apenas algo para fingir tradição.
Era como se eu fosse uma estátua vestida com nervos escondidos. Por fora, a imagem do controle, por dentro, um tabuleiro de xadrez onde cada peça movia-se com a urgência de um império prestes a ruir ou consolidar-se.
Recusei o brunch. N