HARRY RADCLIFFE
A porta do carro fechou-se com um baque seco, e finalmente, o mundo calou.
O silêncio ali dentro era pesado, como um cofre trancado por dentro. Girei o pulso, afrouxando o botão da manga. A costura do paletó novo me irritava como pele de cobra sobre carne viva — feita sob medida, claro, mas ainda assim, não a minha. Nunca a minha.
A cidade escorria pelas janelas blindadas, Manhattan estava cinza e cínica, nada espantoso, já que quando aumentava o pico de calor, vinham as chuvas e garoas.
Pedi ao motorista que desse uma volta longa, sem destino, só para que eu não precisasse voltar ao escritório ou para casa tão cedo. Eu precisava de minutos sem política familiar ou empresarial. Sem cobranças veladas. Sem Herodes, sem Steffan com as suas piadas em desespero, sem estresse de papelada.
Mas o celular vibrou, e na tela: Ruby Portman.
Fechei os olhos por um instante, respirei fundo, e atendi.
— Harry! — a voz dela estourou leve, sorridente, como se viesse de um mundo onde na