Uma paixão ardente e um amor tórrido destruídos por um passado marcante e sangrento. Ruby Portman foi marcada por aquele magnata frio a ser completamente sua, mas três anos se passaram e tudo o que envolvesse aquele nome foi queimado adjunto de todas as lembranças. Ruby tentou esquecer tudo e avançar para uma nova vida sem Harry Radcliffe ou algum passado que a fizesse correr contratempos remotos. Mas, uma noite poderá estragar completamente os seus planos e abanar as muralhas. Será que tudo será perdoado? Será que Harry estará disposto a esquecer todos os seus fantasmas ou agarrará as suas correntes para sempre?
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Desliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.
Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissesse que ele havia finalmente dado as caras. Sempre acabava me decepcionando. Cento e quarenta e quatro semanas de espera e nada. Era quase patético, mas não conseguia evitar.
Era engraçado, na verdade, como com o tempo os tabloides haviam deixado de falar de mim, do nosso relacionamento. A princípio, a exposição havia sido intensa, quase insuportável. Mas agora, era como se eu nunca tivesse feito parte daquele mundo. Eu não sabia o que sentir em relação a isso. Felicidade? Talvez, por finalmente ter a minha privacidade de volta. Tristeza? Quem sabe, por perceber que, mesmo que falassem as piores atrocidades ao meu respeito, Harry nunca apareceria para me defender. Ele era reservado demais para isso, sempre foi. E, no fundo, eu sabia que não deveria esperar nada diferente.
Suspirei, bebendo mais um gole de vinho enquanto olhava para a vista da rua através da grande janela da sala. Era uma vista bonita, a cidade se estendendo à minha frente com as suas luzes brilhantes e o seu movimento constante. A Radcliffe’s havia me indemnizado muito bem após o meu desligamento, uma compensação generosa que me permitiu comprar este apartamento. Um lugar bonito, moderno, no coração da cidade, com uma vista que eu sempre sonhara. Mas antes de me estabelecer aqui, passei uma temporada na Itália, com meus pais. Foi um período necessário, quase terapêutico, para curar as feridas mais profundas. No entanto, a Itália só podia oferecer tanto. A verdadeira cura só poderia vir com o tempo, ou pelo menos era isso que eu esperava.
Depois de voltar e comprar o apartamento, não demorou muito para encontrar um novo emprego. A carta de recomendação que Nicklaus escreveu para mim foi um gesto inesperado, quase de compaixão pela situação toda. No fundo, eu sabia que ele não precisava ter feito isso, mas sou grata. A carta abriu portas que eu pensava estarem fechadas para sempre por causa dos sites de fofocas.
De repente, os meus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta do banheiro se abrindo. Johnny, meu namorado, saiu de lá apenas de toalha, os cabelos ainda molhados e o corpo exalando aquele aroma fresco e limpo do banho recém-tomado. Ele se aproximou de mim, inclinando-se para depositar um beijo suave nos meus lábios. Respondi ao beijo com um sorriso pouco genuíno. A minha mente ainda estava em outro lugar, em outro tempo.
Johnny rapidamente percebeu e olhou para mim com uma expressão de preocupação sutil.
— Você está tão pensativa… algo errado?
Eu queria responder com algo que fosse verdadeiro, mas as palavras certas me escapavam. Como explicar a ele que, mesmo depois de tanto tempo, uma parte de mim ainda estava presa a um homem que desapareceu, a um passado que parecia me assombrar em silêncio? Em vez disso, apenas balancei a cabeça, tentando dissipar as sombras dos meus pensamentos.
— Só estou pensando… nada de mais. Trabalho e essa coisas.
Johnny assentiu, aceitando a minha resposta sem pressionar. Ele era assim, sempre respeitava o meu espaço, minha necessidade de silêncio. Talvez soubesse que havia coisas que eu simplesmente não estava pronta para compartilhar, ou talvez ele já tivesse aceitado que parte de mim sempre estaria distante, em algum lugar que ele não podia alcançar.
— Vou me vestir. — Disse ele, antes de se afastar em direção ao quarto, deixando-me novamente sozinha com os meus pensamentos.
Observei-o enquanto ele se afastava, sentindo uma pontada de culpa misturada com uma tristeza que parecia constante. Johnny era um bom homem, alguém que me trouxe conforto e segurança em um momento em que eu mais precisava. Mas, por mais que tentasse, não conseguia apagar completamente a sombra de Harry da minha mente, ou me apegar ao meu namorado. Era como se uma parte de mim ainda estivesse esperando por algo, mesmo sabendo que esse algo talvez nunca viesse.
Deitei-me no sofá, segurando a taça de vinho e olhando para a vista da cidade. Três anos. Três anos era muito tempo para esperar, muito tempo para se agarrar a algo que talvez nunca mais voltasse. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia me forçar a deixar completamente para trás. Era como uma ferida que nunca cicatrizava, sempre aberta, sempre doendo, mas que, de alguma forma, eu havia aprendido a conviver.
E, assim, o tempo continuava a passar, cada dia me afastando mais do passado, mas nunca completamente. Porque, no fundo, por mais que eu desejasse seguir em frente, uma parte de mim ainda estava presa ao que poderia ter sido, ao que eu nunca conseguiria esquecer completamente.
HARRY RADCLIFFEO ronco grave do motor era a única coisa que preenchia o silêncio pesado no carro. Steffan estava de braços cruzados, o corpo jogado contra o banco, encarando a paisagem como se pudesse arrancar respostas do asfalto. Eu sabia que ele remoía tudo — Lorena, Herodes, o inferno inteiro que passamos na época que convivemos com eles — mas, ao contrário dele, eu não tinha muita paciência para melodrama. — Não faz sentido, Harry — ele começou, a voz carregada de uma revolta quase infantil. — A gente estava matando para tolerar aquela escrota drogada, e esse maldito vivendo essa vidinha feliz de comercial com outra mulher? Ou seja, ele traia a drogada com uma filha de empresários? Que sentido isso faz? — Revirei os olhos. — Cala a boca, Steffan.— Não, eu não vou calar a boca — ele retrucou, virando-se para mim. — Você sabe?— Se eu soubesse, achas que estaria aqui contigo, ouvindo essa ladainha? — apertei o volante, sentindo os nós dos dedos ficarem brancos. — Herodes sempr
HARRY RADCLIFFEO barulho da chuva era o pano de fundo perfeito para um reencontro que nunca deveria estar acontecendo. A cidade estava muito úmida e cinzenta, o que parecia conspirar com o meu humor. Não havia nada de ensaiado na mensagem que recebi dois dias antes, nenhuma cerimônia, somente um convite direto e quase desesperado. Eu deveria ter ignorado, mas aqui estava eu, parado diante da porta de um café no centro de Brooklyn, com a estranha sensação de que cada gota que caía do céu era um prenúncio.Quando empurrei a porta, o calor do ambiente me atingiu como um soco. O cheiro de café recém-moído e madeira encerrada se misturava ao peso das memórias, e eu vi-o antes que ele me visse. Herodes Radcliffe.A primeira coisa que me chamou atenção foi que ele estava diferente. O cabelo mais curto, a barba bem-feita, roupas caras, postura ensaiada demais, era como se a vida tivesse se empenhado em reconstruir uma versão dele que não me lembrasse da infância, mas era inútil, bastava o
HARRY RADCLIFFEAcordei com o calor do corpo de Ruby colado ao meu, incluindo os dedos magros sobre os meus. O apartamento cheirava a café velho e lavanda, uma mistura estranha, mas curiosamente reconfortante, ainda mais em contraste com a madrugada que só cheirava a sangue.Abri os olhos devagar, ainda com a cabeça pesada, e percebi que ela já me olhava de canto com aquele sorriso sonolento que usava para disfarçar quando era pega me olhando.— Hoje não vou trabalhar — murmurei enquanto tentava endireitar-me melhor sobre o seu colchão que certamente era de péssima qualidade. — Quero passar o dia inteiro com você.Ela piscou, surpresa, mas logo assentiu com um entusiasmo doce.— Gosto dessa versão de você, sabias? — Disse, brincando. — Podíamos ver um filme e comer porcarias o dia todo. Você, com esse seu tamanho todo, perdido no meu apartamento minúsculo… gosto de ver você deslocado.Não respondi, apenas a olhei se divertindo caçoando de mim, tentando gravar cada detalhe do seu rosto
HARRY RADCLIFFEO grito da minha irmã veio primeiro.Agudo e rasgando todo o ar.Eu estava parado no meio da escada, como uma estátua rachada, os pés colados ao chão, e sabia, sabia com uma clareza cruel, que algo terrível estava prestes a acontecer.O corredor lá em cima estava engolido pela penumbra, a luz fraca oscilando como uma vela prestes a apagar, e após longos segundos a consegui ver. Minha mãe estava ajoelhada diante do balcão, os cabelos loiros soltos colados à pele pelo suor, a respiração ofegante; ela segurava a mão de Íris, que soluçava baixo e permanecia com o rosto escondido entre os seus ombros.Havia um homem que eu não reconhecia, uma simples sombra viva com o corpo disforme e o rosto mergulhado no breu, ele aproximou-se delas com uma lâmina longa demais para ser real.O tempo dilatou com cada passo seu marcado no carpete.— Não… — a palavra escapou de mim, mas não fez barulho algum e a minha garganta ardia, como se uma mão invisível a apertasse com força.O primeir
HARRY RADCLIFFE— Eu... juro que não sabia da lavagem — a sua voz tirou-me momentaneamente do transe. — Nunca soube de nada, Harry.Mantive-me em silêncio, esperando que continuasse. Ela respirou fundo, fechou os olhos.— Mas... havia coisas estranhas, de fato, havia reuniões... "sigilosas", sabe? Com executivos que eu nunca conheci, mas também, pouco me importava — ela engoliu seco, desviando o olhar. — Você não entende, meu pai só... só se reunia com eles porque precisava pagar umas dívidas antigas, não tem como a ver com o que aconteceu com Johnny.— Continua.— Tinha umas tais de floriculturas que sempre apareciam nas transações... eu achava que era uma piada, mas não era porque Robert ia lá o tempo todo, precisava "resolver alguma coisa".— E o que mais ele disse? — perguntei, ela assentiu, inquieta.— Sei lá, havia um juiz, sinceramente, sempre caguei para o nome dele, mas era "amigo da casa", encontrei extratos com depósitos vultosos e jantares pagos em dinheiro vivo, foi nessa
Eu certamente odiava ligações.Pessoas insistiam nelas como se uma voz no ouvido tivesse o poder de consertar o mundo, mas Ruby... era diferente, ela sempre seria a minha única exceção.O carro ficou rapidamente mergulhado num silêncio quando desliguei o rádio e disquei o seu número. Os faróis riscavam a estrada, e, apesar do caos na minha cabeça depois da conversa nada produtiva com Karl Humpert, eu via o rosto dela com clareza. Sabia que a morte do Johnny tinha mexido com a minha esposa, eu supunha — espera, especialmente — não porque ainda o amasse, mas porque além de ter feito parte da sua vida até alguns meses atrás, a forma como tudo aconteceu feria qualquer um.— Ruby.— Harry? — O tom soou frágil, quase um sussurro. — Onde você está? Por que demorou tanto para retornar as ligações? — Apertei o volante com mais força.— Estava resolvendo algumas coisas — O meu tom saiu mais neutro, como se as trivialidades de tais coisas não tivessem nenhuma importância.— Não vai me dizer o qu
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