HARRY RADCLIFFE
O ronco grave do motor era a única coisa que preenchia o silêncio pesado no carro. Steffan estava de braços cruzados, o corpo jogado contra o banco, encarando a paisagem como se pudesse arrancar respostas do asfalto.
Eu sabia que ele remoía tudo — Lorena, Herodes, o inferno inteiro que passamos na época que convivemos com eles — mas, ao contrário dele, eu não tinha muita paciência para melodrama.
— Não faz sentido, Harry — ele começou, a voz carregada de uma revolta quase infantil. — A gente estava matando para tolerar aquela escrota drogada, e esse maldito vivendo essa vidinha feliz de comercial com outra mulher? Ou seja, ele traia a drogada com uma filha de empresários? Que sentido isso faz? — Revirei os olhos.
— Cala a boca, Steffan.
— Não, eu não vou calar a boca — ele retrucou, virando-se para mim. — Você sabe?
— Se eu soubesse, achas que estaria aqui contigo, ouvindo essa ladainha? — apertei o volante, sentindo os nós dos dedos ficarem brancos. — Herodes sempr