Capítulo 5 - Obsessão silenciosa

A reunião terminou em perfeita ordem britânica: apertos de mão firmes, agradecimentos formais, pastas recolhidas e sorrisos de cortesia trocados entre os advogados.

Alicia Parker se despediu com um leve inclinar de cabeça, mantendo a compostura de sempre, embora sentisse o corpo levemente trêmulo.

Ela havia sobrevivido.

Ou ao menos era o que pensava.

Victor observou seu andar firme, os saltos ecoando suavemente pelo chão de mármore, o balançar discreto dos cabelos escuros e a elegância que parecia natural, sem esforço.

Ela não o olhou de novo.

Não uma única vez.

A porta se fechou. O silêncio reinou.

Victor permaneceu sentado à cabeceira da mesa, sozinho, os olhos fixos no espaço que ela ocupara instantes antes.

Como?

Como uma única noite foi capaz de transtorná-lo daquele jeito?

Como o corpo de uma mulher, o cheiro dela, o som do prazer contido, podiam ainda o assombrar no meio de uma reunião de negócios?

Não era possível. Ele não era esse homem.

E, no entanto, ali estava.

Descompassado.

Desfocado.

Com a mente e o corpo ardendo pela mesma mulher que, agora, usava seu nome verdadeiro e representava uma das bancas jurídicas mais respeitadas da Europa.

Ele levantou-se, ajeitou o paletó e dirigiu-se à sua sala sem dizer palavra.

Ao entrar, trancou a porta.

A solidão do ambiente, com a luz natural filtrada pelas enormes janelas e o silêncio absoluto, apenas amplificou o turbilhão dentro dele.

Ele caminhou até o bar discreto no canto da sala e serviu-se de um whisky italiano de 18 anos, que costumava reservar para reuniões de alto escalão.

Hoje, usaria para tentar acalmar a alma.

Tomou o primeiro gole, os olhos voltados para Londres abaixo.

Ela estava ali. A menos de dez quilômetros de distância.

E ele a queria de novo.

Mas queria com as mãos, com a boca… e com o controle que havia perdido naquela noite.

Não podia mais ser pego de surpresa.

Bateu levemente com o copo de cristal sobre o balcão, sem virar-se, e disse com voz firme, mas contida:

— Renzo.

A porta se abriu quase imediatamente. O assistente pessoal de Victor, sempre impecável, entrou com uma prancheta em mãos.

— Senhor?

Victor virou-se lentamente. Olhou nos olhos do subordinado com a frieza calculada de sempre.

— Quero um dossiê completo. Uma ficha pessoal detalhada. Tudo sobre Alicia Parker.

— Claro, senhor.

— Quero dados públicos e confidenciais. Formação, histórico profissional, cidades onde morou, círculos sociais, nome dos pais, endereço atual, hábitos, lugares que frequenta, até onde faz compras, se possível.

— Algum limite? — Renzo perguntou, com o cuidado de quem já havia recebido ordens semelhantes.

Victor sorveu outro gole do whisky e respondeu com calma:

— Não. Nenhum.

— Entendido. Algo mais?

— Discrição absoluta. E prioridade máxima.

— Sim, senhor.

Renzo saiu tão rápido quanto entrou, sem fazer perguntas. Ele sabia que, quando Victor falava com aquele tom baixo e firme, era porque algo – ou alguém – havia quebrado a armadura.

Victor caminhou até sua poltrona de couro negro, recostou-se, cruzou as pernas e encarou o teto por um longo tempo.

Era inacreditável.

A mulher que havia derretido sua sanidade por uma noite — aquela que gemia seu nome falso no escuro — agora era uma profissional à sua frente, fria, competente e distante.

Será que ela fingiu não me reconhecer?

Será que se entregou consciente, só para me deixar sem chão depois?

Ele riu baixo.

se foi isso… ela é melhor do que eu pensava.

E ainda mais perigosa.

Maldita mulher.

Como ela consegue?

Mas no fundo, sob o orgulho ferido e o raciocínio estratégico, havia apenas uma verdade crua, indiscutível, incômoda:

Ele queria mais.

Mais daquela boca.

Mais daqueles olhos fechando no êxtase.

Mais daquela entrega silenciosa e quente que o deixara acordado duas noites seguidas.

E, dessa vez, ele não deixaria que ela desaparecesse.

(Alicia)

O carro do escritório seguia silencioso pelas ruas úmidas de Londres, cortando a neblina fina que cobria a cidade como um véu. Os colegas conversavam sobre cláusulas, estratégias e prazos com a habitual seriedade profissional, mas Alicia Parker... não ouvia nada.

Estava sentada no banco traseiro, o corpo alinhado como sempre, mas o olhar fixo no vidro, perdido em pensamentos que ardiam como ferro quente sobre a pele.

O perfume dele ainda estava em suas narinas.

O olhar dele... ainda queimava em suas costas.

Ela sentiu.

No exato momento em que se levantou para sair da sala de reuniões, sentiu o olhar de Victor cravado nela. Não um olhar de indiferença profissional. Não.

Era um olhar de quem a conhecia.

De quem já a tivera.

De quem ainda a desejava.

E aquilo... a desequilibrou por dentro.

O que ele pensará de mim?

Essa pergunta martelava sua mente com força.

Será que me acha uma qualquer? Uma mulher fraca?

Alicia apertou levemente os dedos, cruzando-os sobre o colo, e inspirou fundo, como quem tenta apagar um incêndio emocional com ar.

Nunca havia se sentido assim antes.

Nunca havia se importado com o que um homem pensava dela. Sempre soube quem era, sempre teve controle. Sempre fora prudente. Mas agora…

Agora ela estava à deriva em um mar que ela mesma havia mergulhado, sem colete, sem bússola, sem rede de proteção.

Eu me entreguei.

Na rua. Sem saber quem ele era. Sem proteção. Sem nome.

Como eu pude?

Fechou os olhos por um breve instante, relembrando o momento em que ele a encostou na parede. O toque, o gosto, a voz dele sussurrando em seu ouvido.

Ela queria aquilo. Não havia como negar.

Cada célula do seu corpo implorava por aquele momento há anos — ela só não sabia disso.

Mas agora? Agora ele sabe quem eu sou. E eu… ainda não sei quem ele é.

Victor D’Abruzzi. CEO da empresa. Um homem bilionário. Um nome de peso

E eu sou a advogada enviada para assessorá-lo.

O estômago se revirou.

Será que ele vai me considerar um risco? Será que vai tirar a credibilidade do escritório por minha causa?

Será que vai dizer algo aos sócios?

E se eu for excluída da equipe? E se desconfiarem de mim?

A vergonha latejou em sua pele como uma febre silenciosa.

E se ele achar que eu planejei tudo?

Alicia engoliu seco.

Ela não era o tipo de mulher que se jogava nos braços de um estranho. Nunca havia feito isso.

Nem ao menos havia vivido prazer real com seu ex-namorado, Adrian — e agora, uma noite com um desconhecido a fizera vibrar como nunca imaginou possível.

E o pior…

Ela não se arrependera.

Não de verdade.

Só não sabia o que fazer com o que havia sobrado.

Com a dúvida.

Com o medo.

Com o desejo.

O carro parou em frente ao prédio do escritório.

— Alicia? — perguntou Graham, gentilmente, percebendo o leve atraso na reação dela.

— Oh… desculpe. Estava pensando em cláusulas de confidencialidade. — mentiu com um pequeno sorriso forçado.

Ela saiu do carro, recompôs a postura, ergueu o queixo e entrou no prédio como sempre: elegante, calma, inatingível.

Mas por dentro...

ela estava em ruínas.

Ele a tinha nas mãos.

Sem esforço.

Sem palavras.

E ela… ainda tremia por dentro, só de lembrar da última vez que ele a tocou.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP