Capítulo 4 - A sede da tempestade

O céu londrino estava coberto de nuvens pesadas naquela tarde de Terça-feira. O cinza parecia refletir o turbilhão interno de Alicia Parker, embora ela mantivesse a mesma expressão serena de sempre.

O prédio da D’Abruzzi Corporation se erguia imponente em Canary Wharf, coração financeiro de Londres. Moderno, feito de vidro e aço, com bandeiras discretas e seguranças elegantes, o edifício transpirava prestígio e autoridade — a marca registrada da família italiana mais poderosa da Europa.

Ela caminhava com passos firmes entre os três colegas da equipe empresarial do escritório.

Thomas Beckett, Graham Whitmore e Andrew Sterling, conversavam animadamente sobre a grandiosidade da estrutura, mas Alicia os ouvia com atenção moderada. O salto médio batia com precisão sobre o piso de mármore do saguão da recepção, e o casaco bege de lã estruturada realçava ainda mais sua postura impecável.

Alicia Parker era a imagem da elegância britânica.

Com sua blusa de seda branca- levemente acetinada, calça de alfaiataria e cabelos castanhos soltos em ondas suaves, ela era constantemente admirada — mas nunca tocada.

Seu olhar era profundo, sua fala precisa. A beleza dela não gritava: hipnotizava em silêncio.

— A D’Abruzzi está enfrentando um possível vazamento interno de informações — comentou Thomas. — Pelo que entendi, eles querem discrição máxima.

— E estão certos — completou Alicia, finalmente falando. Sua voz era doce, porém firme. — Uma falha contratual em uma empresa dessa magnitude pode custar bilhões.

— Por isso mesmo que trouxemos você — disse Andrew com um sorriso discreto. — Não conheço ninguém melhor para blindar juridicamente um império como esse.

Alicia apenas assentiu, acostumada com os elogios que sempre evitava alimentar.

Foram conduzidos a uma sala de reuniões no 28º andar — ampla, moderna, cercada por vidros com vista privilegiada para o Tâmisa. A mesa oval de nogueira contrastava com o chão escuro de cimento queimado. Em cada canto, quadros modernos e discretos, e uma parede lateral com prateleiras de mármore e livros em italiano, francês e inglês.

Enquanto os advogados do escritório se acomodavam, Alicia pousou seus olhos sobre a cidade ao fundo. Londres parecia distante. Aquela paisagem que sempre lhe fora tão familiar, agora parecia... enevoada.

Talvez fosse a lembrança da noite anterior.

Talvez fosse o estranho que a fez tremer com um simples olhar.

Ou talvez fosse o destino… prestes a se revelar.

A porta da sala se abriu com elegância contida.

E então ele entrou.

Alto. Impecável. Trajando um terno escuro feito sob medida, gravata preta, cabelos castanhos penteados com leveza e os olhos mais hipnotizantes que Alicia já vira.

Victor D’Abruzzi.

O sangue sumiu das extremidades do corpo de Alicia.

Ela o reconheceu imediatamente — era o homem da rua escura, o beijo, os gemidos, o prazer alucinante que ainda a visitava nos sonhos.

Mas ele...

Ele parecia intocado.

Calmo. Dono do ambiente.

Como se aquela noite sequer tivesse acontecido.

Ou como se... estivesse apenas começando a jogar.

Victor lançou um olhar geral para a equipe, cumprimentando com leve aceno.

— Bem-vindos à D’Abruzzi Corporation. É uma honra tê-los conosco.

A voz dele era a mesma.

Grave. Segura.

Sedutora.

Seus olhos repousaram por um segundo mais longo sobre Alicia.

Apenas um segundo. Mas o suficiente para ele saber.

A bela mulher à frente dele, de blazer claro e postura profissional...

era a sua Lúcia.

Um sorriso discreto tocou o canto de seus lábios.

Quase imperceptível.

Quase cínico.

Alicia manteve a compostura.

Olhou para ele com a frieza de uma profissional bem treinada.

Mas por dentro...

Seu corpo ardia.

Sua alma tremia.

E no fundo, algo dizia:

Ele sabe.

Ele se lembra...

(Victor)

Victor entrou na sala de reuniões com passos firmes, pontuais, precisos. quatro advogados o aguardavam de pé, ao lado da longa mesa de vidro fumê. Ele lançou um olhar geral, profissional, cordial, mantendo a expressão neutra e polida de sempre.

Mas então…

seus olhos a encontraram.

Por um instante — apenas um segundo — o mundo pareceu inclinar-se.

Ali, diante dele, estava ela.

A vestimenta agora era outra. Os cabelos mais alinhados. A maquiagem sóbria.

Mas os olhos…

os olhos eram os mesmos.

A mulher da rua escura. A boca que gemeu em sua boca. O corpo que tremeu em seus braços.

A pele que ainda vivia na memória de seus dedos.

Victor travou. Internamente. Por fora, manteve-se impenetrável.

— Bem-vindos à D’Abruzzi Corporation. É uma honra tê-los conosco — disse, com o mesmo timbre grave e educado de sempre.

Mas seu coração, esse traidor silencioso, martelava no peito com uma força incomum.

Não podia ser.

A misteriosa Lúcia, que desapareceu naquela noite como um devaneio... estava ali.

Séria, centrada, elegantemente vestida, e sentada em frente a ele como representante de um dos maiores escritórios da Inglaterra.

E agora ele sabia: o nome dela era Alicia. Alicia Parker.

Enquanto os cumprimentos e apresentações prosseguiam, Victor se sentou à cabeceira da mesa com a elegância impenetrável de sempre. Pegou uma pasta preta com a marca dourada da empresa e folheou uma cópia do contrato apenas para disfarçar. Por dentro, o turbilhão o rasgava em silêncio.

Será que ela já me conhecia?

Será que fingiu não saber quem eu era?

Se se entregou consciente... é uma atriz brilhante além de advogada.

Ele a observava de canto de olho — como ela analisava os documentos, fazia pequenas anotações, respondia com elegância.

Nada nela traía o que viveram juntos.

Inacreditável.

Do jeito que ela estava comigo... parecia, de certo modo, inocente. Tímida. Entregue.

Mulheres…

Sempre foram um mistério para ele. Mas essa...

Essa é a melhor.

Fria. Discreta. Sagaz.

E ainda assim, tão doce em seus braços, tão quente, tão molhada, tão entregue.

A lembrança o corroía.

A boca dela, o gosto, o gemido preso no ouvido...

Que raiva.

Que peste essa mulher!

Victor apoiou os cotovelos sobre a mesa, uniu as mãos diante da boca como se refletisse sobre a cláusula projetada na tela, mas na verdade tentava controlar os pensamentos.

Fui pego de surpresa.

Não esperava encontrá-la tão cedo. Nem nesse papel. Nem aqui. Nem assim.

Se pudessem ouvir seu coração naquele momento, saberiam: não era mais um CEO liderando uma reunião.

Era um homem em combustão interna.

Um homem com sede.

Só consigo pensar na delícia que ela é.

No tanto que eu queria beber mais dela.

Ela escapou de mim naquela noite. Mas agora… está sentada bem aqui.

E então, com a mente já decidida, ele olhou para ela por um breve segundo — só ela — e selou em pensamento:

Alicia Parker não sairá dessa empresa tão cedo.

E não seria apenas por razões contratuais.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App