A neve caía como véu sobre a cidade, fina e constante, pintando tudo com uma calma de filme. Ana estava no banco do passageiro, usando um sobretudo claro com um cachecol grosso envolvendo o pescoço. Seu rosto estava virado para a janela, os olhos acompanhando o caminho branco lá fora, mas os pensamentos estavam dentro — num lugar mais apertado.
A mão de Kenji estava sobre a coxa dela, por baixo do tecido espesso do casaco. Os dedos longos se moviam devagar, em círculos lentos, massageando com uma pressão exata — nem invasiva, nem displicente. Era um toque contínuo, como se ele quisesse lembrá-la de que ela estava ali, com ele, segura. Ou talvez como se estivesse dizendo que ela pertencia àquele instante.
Ana não disse nada, mas o toque queimava. Não de um jeito ruim. Era como se cada círculo que ele desenhava ali ativasse alguma parte dela que ficava em silêncio nos dias normais.
Kenji dirigia com a outra mão no volante, olhos fixos na estrada. Mas os olhos dele não pareciam calmos