Dalila é estudante de música, órfã e se vê a beira do fim de seu sonho. Para se manter estudando ela usa seu talento em festas rave para fazer dinheiro e assim chama atenção de um italiano perigoso, que tentará todos os meios possíveis para obtê-la. Ela não é uma mulher fácil e ele não é o único italiano problemático atraído. Dois irmãos. Seres da noite. Uma linhagem de sangue. Um segredo. Uma profecia. Dalila conhecerá a história como nunca imaginou que poderia ser contada e seu sangue será o preço da paz.
Ler maisDon Giorgio segura o rosto de sua esposa pela última vez antes da sua morte, essa é a ordem final da doce Genevieve. A mão dele mancha a pele pálida dela com seu próprio sangue e apesar disso ela sorri, venera ele com seu olhos grandes e azuis como o mediterrâneo, tenta agarrar-lhe o tecido da camisa como se desejasse compartilhar as suas últimas palavras antes do grito final que veio cedo demais e interrompeu a cena. Ela se contorce e o Don assiste em completo silêncio, sozinho, apenas ele e tua dama, a mulher que traz ao mundo seu herdeiro.
— Giorgio... — Ela tenta chamar, ofegante, a voz entrecortada e tão baixa que só podia ser ouvida porque ele não era humano.
— Si bella mia. — Ele diz sem emoção, ainda segurando seu rosto como uma boneca.
— Gio... C’e... Gio... — Ela tentava e sua palavras seguiam presas pelas contrações que vinham uma após a outra.
O suor fresco de Genevieve se mistura ao sangue em seu rosto, Giorgio solta sua amada com a impressão de que algo está prestes a dar errado, afinal, à essa altura a criança já devia ter rasgado sua mãe e nascido como deve ser. Ele mais uma vez ergue o vestido manchado e procura por algum sinal de seu filho, mas há apenas uma quantidade exorbitante de sangue e os gritos incessantes da pobre mulher. Ele se levanta, sabe que não poderia pedir ajuda a ninguém, pois ninguém estaria bem alimentado o suficiente para não matar a mãe da sua cria. Ele se vê encurralado, volta a se ajoelhar ao lado dela e seus sentidos o confundem, ele sabe bem que o sangue perdido já significa a morte da sua companheira, ela já não responde as contrações como antes e aos poucos desfalece e ele faz uma escolha rápida que talvez lhe custaria o respeito do clã, respeito que estava disposto a recuperar à ferro e fogo se isso fosse manter a existência da sua querida. O ato desesperado dele significa o rompimento de uma veia por suas presas, aonde rapidamente verte seu sangue espesso e escuro que ele gentilmente derruba nos lábios trêmulos da pequena Geni. Apesar disso, o único som que Don Giorgio ouve no quarto é o choro desesperado do recém nascido que inesperadamente repousa entre as pernas da mulher, coberto de sangue e pele.
O choro penetra em seus ouvidos como o som de uma banshee anunciando a morte eminente, lhe amaldiçoa e perturba como nada jamais foi capaz de fazê-lo. Ele olha a pequena criatura com repulsa, recolhe o pulso que antes derramava o precioso licor da vida nos lábios da esposa e percebe que ela o rejeitou, não foi capaz de cumprir a ordem e por isso, está morta. Ele desejava poder dar a ela a imortalidade, mas os costumes condenam o desrespeito com a decisão das moiras. Insatisfeito e incrédulo Giorgio se retira, deixando naquele quarto o corpo inerte de Genevieve e a existência frágil e agora insignificante de sua cria.
Horas se passam, a criança chora em plenos pulmões, e como um animal selvagem, se move em busca de alimento sob o corpo da mãe e com dificuldade encontra-lhe os seios e suga a vida restante da falecida. De uma fresta na porta o Don encontra o filhote lutando pela sobrevivência e decepciona-se com os seus deuses pela primeira vez, não queria conviver com uma cria bastarda, não queria ter sua oração ouvida, não queria mais um guerreiro. A arma em sua mão serviria para acabar com o choro irritante daquela aberração, mas agora... Como poderia encerrar-lhe a vida e negar o desejo de Jupiter?
Giorgio bateu a porta atrás de si e em um piscar de olhos estava na companhia dos cavalheiros da famiglia que antes esperavam para brindar pelo nascimento do herdeiro e agora lamentavam pelo erro de Giorgio ao escolher la dama, que fora incapaz de dar aos seus o presente prometido pelos céus.
— Il bastardo è un miracolo. — Diz o líder em desgosto.
Rafaello, o conselheiro e irmão de sangue de Giorgio, cuja energia permitia rever fatos recem vistos através dos olhos de outrém, toca no enlutado com hesitação, temia o que seu amigo queria dizer com aquela frase e a cena da criança escalando a mãe como um filhote de felino em busca de alimento o fez questionar o que os Deuses desejavam com tal mensagem. Os outros encaravam curiosos, poucos tinham qualquer habilidade então estavam no escuro, enquanto o Don encarava a arma em sua mão buscando motivação para tomar uma decisão.
— Il bastardo vive! Combatti come uno di noi... Non possiamo negare il tuo sangue, Don Giorgio. — Anuncia Rafaello quebrando o silêncio, com a mão firme no ombro do amigo.
Poucas coisas entre os Capadócci eram mais importantes do que a vontade dos deuses antigos, dentre elas, o respeito pela tradição do herdeiro. A tradição os tornou independentes de seus antigos senhores, deu a eles o reinado em Favignana, deu a eles o controle de sua imortalidade. Negar o sangue é o maior pecado que um Capadócci pode cometer e Don Giorgio não gostaria de ter isso contra ele.
Ele solta a arma em sua mão e se retira da sala como sinal de que não lutaria contra o destino, desaparece, não pretendia ver aquela cria novamente e nem enterrar a mãe. Não poderia enterrar sua amada Genevieve, preferia guardar a imagem viva dela.
Rafaello, no entanto, assumiu a responsabilidade sob a criança sem ao menos ter recebido tal ordem. Estava determinado a criar o menino ao qual ele chamou por Giovanni em homenagem ao mestre, confiante de que faria Don Giorgio enxergar o propósito do menino um dia.
O silêncio no carro já durava alguns minutos e era respeitado por Giovanni paciente e centrado na direção, enquanto Dalila arrancava o esmalte das unhas por pura ansiedade. Foi interrompido abruptamente pelo som de Big Girls Don’t Cry do telefone da morena.— Por favor, diga coisas boas. — Implorou ela com a voz trêmula ao atender.— Sua bisavó está segura, Gabes ta arrumando um jeito de continuarmos de olho nela sem alarmar os humanos da casa de repouso. — Jenny soltou de uma vez e Dalila pareceu aliviar um peso de décadas preso em seu peito.— Caralho... Okay... Obrigada Jenny. E vocês falaram com ela? Como foi? — Quis saber aflita.— Na verdade foi mais o Gabes. Ela se lembrou dele e eles falaram sobre geleias e afins... Lila, a sua avó mencionou sobre seres da noite transformarem a terra em um inferno e sobre ela ser uma fada...— Fada? Fada, tipo nos livros? — Começou Dalila confusa com a declaração da amiga.Giovanni teve sua atenção captada pelo assunto, olhou a morena com estr
Porto Alegre – RS, BrasilA casa de repouso tinha as portas escancaradas e uma pequena recepção logo na entrada, aonde Jenifer apertou a campainha chamando atenção de uma mulher jovem de sorriso meigo que aguava um dos vasos de planta próximos e logo veio ao encontro.— Olá, posso ajudar?— Sim, eu me chamo Dalila Feigenbaum e estou procurando minha bisavó.— A Dona Nívea. — Completou a jovem contente. Como se soubesse a história, que por sinal não era verdadeira.Jenny pareceu surpresa, sorriu amplamente e Gabriel mais uma vez admirou sua atuação.— Sim, como sabe? — Perguntou a sirena quase emocionada.— Dona Nívea conta sobre você nos momentos lúcidos e seu sobrenome não é tão comum, então já soube de cara. Fico feliz que tenha vindo visitar a Dona Nívea, ninguém vem há um bom tempo.— Eu sinto muito por isso, meus pais faleceram e desde então as coisas ficaram bem sensíveis para mim. Estou retomando a vida aos pouquinhos sabe? Enfim... Como ela está?— O senhor está junto? — Pergu
O caminhar de felino e o cabelo loiro revolto era um alerta de agouro para Dalila que via aquela figura com um misto de asco e ódio crescente, notando que o medo que tinha antes já não era mais um sentimento tão forte. Mas era só. Não viu mais nada a princípio, estava se afogando naqueles sentimentos obscuros quando sua mente passou a expandir a cena gradativamente e ela percebeu que o via em um longo corredor branco banhado por uma meia luz amarelada. Sonhos sempre foram coisas abstratas demais para a morena, aquilo era diferente. Notou o mural com colagens sobre alimentação saudável e as portas uma após a outra como um hospital, refletiu o que faria aquele monstro visitar um hospital, estava de fato confusa até o instante em que ele parou diante uma das portas, abaixou a maçaneta e revelou, com seu sorriso macabro, a senhora de olhar perdido sentada diante da janela ao qual prontamente reconheceu. Pensou em gritar, chamar sua bisavó para que ela acordasse da catatonia e chamasse p
No dia anterior— Sabe que não posso segurar essa desculpa por muito tempo, então vai logo Jenifer. — Diz o carrancudo tenente Pires ao abrir a maciça porta dos Feigenbaum.Jenifer havia convencido um velho amigo do seu pai a abrir a mansão, eles fizeram parecer que era uma ocorrência de invasão e por sorte, o parceiro do tenente era um jovem muito leal e logo foi convencido pela sirena que assegurou estar fazendo uma pesquisa para a universidade e nada de mais aconteceria. Gabe acompanhava o jogo de blefe e manipulação da amiga com um interesse questionável, impressionado, subiram juntos até a biblioteca sem distração alguma e assim que empurraram a porta de madeira, o cheiro de pó e papel antigo denunciou que estavam no caminho certo.— O único problema vai ser achar qualquer coisa em 30 minutos. Isso aqui é enorme! — Constatou Gabriel ao caminhar para uma das prateleiras.— Você sabe melhor do que eu como se parece esse livro, então vamos. — Encorajou ela indo para o lado oposto de
Inconscientes do perigo que os espreitavam, Dalila e Giovanni não podiam conter a vontade de estarem novamente juntos como a noite na cabana.O beijo antes iniciado se quebrou quando Giovanni já não podia mais aguentar o desejo de sentir novamente a temperatura e a textura irresistível da pele dela sob suas presas, a deitou no chão de madeira com cuidado. O corpo dela vibrava na ansiedade do que aquele homem faria, as orbes castanho-esverdeado ainda mais verdes naquele momento, brilhavam fitando os dele com uma sensualidade natural que, apesar de fingir não ter visto, mexeu ainda mais com ele, que sem hesitação se acomodou entre suas pernas automaticamente cruzadas ao redor dele para que a ereção pulsasse a medida que roçava o centro da excitação dela. Provocou a morena com as presas expostas sob o seu delicado pescoço e a lembrança do que sentiram durante a ligação empática bastou para se entregarem. Ele podia sentir o sangue correndo quente quando deslizou sua língua lentamente aci
Naquela noite Tommaso não esperava que Jocasta estivesse ali, a ordem era que ela cuidasse das negociações com traficantes locais em seu lugar pois estaria ocupado revirando o Brasil atrás de Dalila e aquele cão traidor. A pequena no entanto, decidiu ficar quando viu no celular de Aurora, que ainda jazia naquele coma vampírico, a mensagem e as ligações de Michelle Benucci que perguntava de ninguem menos que seu homem.—Querido? — Ela chamou docemente.Tommy sentiu-se desafiado ao olhar o corpo pálido vestindo aquele sobretudo de pelúcia rosa e atravessou a sala para ter em suas mãos o rosto de maçãs redondas e nariz fino com uma delicadeza incoerente ao tamanho da pressão imposta contra a janela que ameaçou quebrar. De pronto a loirinha fechou os olhos num misto de medo e prazer e sorriu, um sorriso de provocação que fez Tommaso querer apertar os ossos de seu crânio ainda mais para testar o quanto manteria o sorriso.—O que pensa que está fazendo aqui, Jocasta? — As palavras saíram en
Último capítulo