O ambiente no escritório principal da Trindade estava carregado de tensão contida. As janelas estavam fechadas, as luzes baixas. Dom Leonardo se encontrava em sua cadeira de sempre, com Fellipo de pé ao seu lado, os braços cruzados e o cenho franzido.Fernando entrou e fechou a porta com cuidado.— Pode sentar, Executor — disse Dom Leonardo com voz firme, mas curiosa.Fernando o fez, mas não antes de respirar fundo, como quem sabe que cada palavra dali moldaria o futuro.— Quero que iniciemos a ligação com Dom Paolo Ortega — disse ele, sem rodeios.Leonardo e Fellipo trocaram um olhar silencioso, e foi Fellipo quem pegou o telefone criptografado, discando direto para a linha privada da Espanha.A chamada atendeu no terceiro toque.— Ortega falando.A voz do Dom espanhol preencheu a sala, grave, carregada de autoridade — mas também de uma dor surda que nunca o deixava desde o desaparecimento da irmã.Fernando olhou para Leonardo, que apenas assentiu.— Dom Paolo, aqui é Fernando Colombo
A mesa estava posta com cuidado quase cerimonial.Louças delicadas, velas suaves no centro, o aroma acolhedor de comida feita com amor preenchia o ambiente — um tempero que só Samara e Cecília conseguiam colocar. A cozinha ainda vibrava com o som das panelas, risos abafados e os pequenos passos de Lorenzo engatinhando pelo corredor com seu brinquedinho favorito nas mãos.Samara ria enquanto corria atrás do bebê, completamente encantada com cada avanço do filho. Ele dava gritinhos, batia palmas e seguia tentando se firmar em pé, escorando-se em tudo o que via. Ela se abaixou, pegou-o no colo, e ele aninhou a cabeça em seu pescoço, exausto de brincar tanto.Do outro lado, Cecília observava seus quatro tesouros recém-nascidos, alinhadas nos bercinhos ao lado da sala, os rostinhos serenos como pequenos anjos adormecidos. Cada uma com um laço de cor diferente no cabelo. Ela acariciava as barriguinhas delicadas, com aquele sorriso de plenitude que só uma mãe conhece.Na sala, Leonardo, Felli
A casa já estava silenciosa. Os risos e as conversas haviam se recolhido, assim como os bebês adormecidos em seus berços. Apenas a lua filtrava uma luz prateada pelas janelas. Fernando esperou que todos subissem antes de estender a mão para Isadora, com um sorriso contido e respeitoso.— Vem comigo?Isadora assentiu, ainda sentindo o calor do abraço de Samara e Cecília no peito. Não perguntou para onde iam. Apenas confiou.Ele a conduziu pela trilha iluminada suavemente até a casa anexa. Quando entraram, Fernando não foi para a sala ou cozinha. Em silêncio, subiu com ela até o estúdio de dança — aquele espaço onde ela tentava se reencontrar consigo mesma.A luz suave do ambiente criava sombras delicadas. Fernando foi até um canto, mexeu no celular e, sem uma palavra, procurou por uma música. O silêncio entre eles era confortável, íntimo. Quando a melodia começou, suave e poderosa, Isadora reconheceu na primeira nota.“Maria, Maria é um dom, uma certa magia…”Elis Regina. A canção que f
Fernando fechou os olhos por um instante, sentindo o mundo inteiro se acalmar com aquelas palavras. Não precisava de mais nada. O que ele mais queria, ela havia acabado de lhe dar: uma chance.Ele segurou o rosto de Isadora com as duas mãos, com a delicadeza de quem segura algo sagrado.— Obrigada. — ele disse, com a voz rouca pela emoção. — Você não tem ideia do quanto isso significa pra mim.Ela sorriu, pequeno, tímido. Um sorriso real. Que não vinha da obrigação, nem da educação — mas da alma. Era o primeiro em muito tempo que realmente nascia dela.Fernando se aproximou devagar e a abraçou de novo, agora com calma, com o tipo de abraço que diz "estou aqui", "fica", "descansa em mim". E Isadora… ficou. Encostou o rosto no peito dele e escutou o coração dele bater. Firme. Constante. Forte como ela precisava.Ficaram assim por longos minutos. Sem pressa.Quando finalmente se afastaram, Fernando limpou uma lágrima que ainda escorria pela bochecha dela e disse:— Vamos construir essa vi
A casa anexa estava silenciosa quando Fernando desceu as escadas com passos firmes. Ele já estava de saída, tentando dar espaço para Isadora respirar já que ela saiu devia querer , processar tudo o que vinha sentindo e vivendo. Mas mal tinha chegado à porta quando ela surgiu — e não apenas surgiu: entrou como quem finalmente escolhe ficar.Isadora estava nervosa, mas decidida. O cabelo solto caía como um manto leve sobre os ombros, e os olhos buscavam os dele com intensidade, apesar do medo ainda sutil. Fernando parou no mesmo instante. O peito dele pareceu suspender a respiração só para não perder um segundo do que ela viria a dizer.Ela caminhou devagar até ele.— Fernando… — disse num fio de voz, mas sem desviar o olhar. — Eu quero tentar… de verdade. Quero tentar ser feliz com você.Fernando sentiu o chão desaparecer por um instante. Os olhos escuros brilharam com uma emoção contida, e ele se aproximou devagar, como quem se aproximava de algo sagrado. Levou a mão ao rosto dela e ac
Fernando se levantou devagar, ainda com uma das mãos repousando sobre o ventre de Isadora, como se estivesse se despedindo temporariamente da filha que crescia ali. O olhar dele era intenso, firme — mas carregado de ternura. Quando seus olhos encontraram os dela, uma nova centelha brilhou entre os dois: não era apenas desejo ou carinho, era promessa. Promessa de um amor que viria com todas as suas cores.— Vai se arrumar, — disse ele, com um sorriso malandro se formando no canto da boca. — Hoje eu vou levar você pra namorar, Isa. Pra ser feliz. Porque você já conheceu o meu lado piadista, o homem que faz graça pra te ver sorrir… mas agora, — ele deu um passo à frente, deixando a voz mais baixa, mais grave — você vai conhecer meu lado romântico. E esse, amor, esse lado é só seu.Isadora baixou o rosto, tímida, tentando conter o sorriso que insistia em nascer em seus lábios. O coração batia rápido no peito, como se fosse a primeira vez que alguém a convidasse para o amor. Mas havia algo
O céu da Itália se tingia em tons dourados quando o helicóptero cortou o ar suavemente, sobrevoando os campos verdejantes e as vilas de pedra que pareciam ter parado no tempo. O pôr do sol refletia nos olhos de Isadora, encantada com a visão que se descortinava abaixo deles. Ela estava sentada ao lado de Fernando, que mantinha a mão firme entrelaçada à dela, como quem segura um milagre com medo de perdê-lo.— É lindo demais… — sussurrou ela, encantada.Fernando a olhou de lado, o sorriso discreto no rosto.— Mas nem se compara com o que eu vejo quando olho pra você. — murmurou de volta, fazendo com que o rosto de Isadora esquentasse de novo. Ela virou o rosto, sorrindo tímida.O helicóptero pousou com suavidade no heliporto privativo do restaurante escolhido a dedo por Fernando — um local rústico e luxuoso no alto de uma colina, com vista panorâmica para o mar. Todo o lugar havia sido reservado só para eles. O caminho estava decorado com luminárias de ferro forjado, flores vermelhas e
O mundo ao redor parecia ter desaparecido.O restaurante espanhol, todo reservado para eles, havia se tornado um santuário. As velas acesas em cada canto dançavam ao ritmo do vento leve da costa italiana, e o perfume de jasmim e vinho pairava no ar. A música sensual e grave ecoava discretamente enquanto Fernando e Isadora, ainda no centro da pista de mármore, estavam colados um ao outro como se seus corpos tivessem sido desenhados para aquele encaixe.Fernando deslizou os dedos pela nuca de Isadora, seu polegar traçando círculos na pele sensível atrás da orelha dela. Isadora suspirou, os olhos fechados, sentindo o toque como se fosse uma carícia na alma. Ele falava sem pressa, entre um beijo e outro na curva do pescoço dela.— Você sente isso, Isa...? Esse calor... essa sintonia? — ele sussurrou, com a voz rouca. — É o nosso corpo dizendo pra alma que encontrou o lugar certo.Isadora estava entregue, com as mãos repousando no peito dele, sentindo as batidas fortes e aceleradas do coraç